Dia 22 de outubro | 21h30.
Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Machico.
Víctor Baena, órgão.
"Entre tentos e danças espanholas – Espanha nos séculos XVII e XVIII".
Embora comum no panorama europeu dos séculos XVI e XVII, a presença de ritmos de dança na música de tecla é especialmente notória em Espanha. Fazendo uso das sonoridades do órgão de Machico – um dos mais preciosos instrumentos históricos da Madeira – Víctor Baena ilustra esta característica, através das obras de Antonio de Cabezón, Francisco Correa de Arauxo, Pablo Bruna e outros compositores espanhóis daquela época.
Víctor Baena nasceu em Madrid em 1995. Interessado na interpretação da música antiga e, em particular, na música escrita para órgão e cravo, decidiu estudar órgão sob a tutela de Anselmo Serna, cravo e baixo contínuo com Denise de La-Herrán e música de câmara com Jesús Sánchez. Recebeu também master classes de Jacques Ogg, Lorenzo Ghielmi, Montserrat Torrent, Bernard Foccroulle, Ton Koopman, Leo van Doeselaar, Andrés Cea Galán, Elisabeth Joyé, entre outros. Deu concertos em Espanha, Holanda, Itália, Croácia, Polónia, Alemanha, entre outros.
Desde 2015 forma um duo de órgão e violino com a violinista Lisette Carlebur, que oferece inúmeros concertos em Espanha e nos Países Baixos. Em 2019 recebeu o primeiro prémio, Schnitgerprijs, no International Schnitger Competition em Alkmaar (Países Baixos); em 2020 recebeu o segundo prémio (ex aequo) e o prémio de melhor interpretação de música ibérica no Concurso Nacional de Órgão “Francisco Salinas - VIII Centenário da Catedral de Burgos”. Atualmente frequenta a pós-graduação (Konzertexamen) na Hochschule für Musik und Theatre em Hamburgo com Wolfgang Zerer, depois de concluir seus estudos de mestrado para órgão no Conservatório de Amesterdão, sob a tutela de Pieter van Dijk e Matthias Havinga. Desde outubro de 2022, trabalha como organista titular na Igreja Mozes en Aäronkerk em Amesterdão.
O concerto de amanhã tem uma vez mais entrada gratuita. Mais informações podem ser obtidas no portal oficial do Festival de Órgão, em https://festivaldeorgao.madeira.gov.pt/.../pagina... .
Órgão da Igreja de Nossa Senhora da Conceição
Na documentação histórica anterior ao século XX constam observações que se referem a dois instrumentos: um foi oferecido, segundo a tradição historiográfica, em 1499, à Igreja de Nossa Senhora da Conceição pelo rei D. Manuel, e um outro adquirido em 1746. No que diz respeito ao órgão manuelino podemos deduzir que ele foi colocado no arco que se abre sobre o cadeiral do lado do Evangelho da capela-mor. No século XVIII, o estado de conservação deste órgão terá deixado muito a desejar, verificando-se a aquisição do segundo instrumento em 1746. O órgão chegou à Madeira em 1752, tendo o Conselho da Fazenda contribuído, inicialmente, nas despesas da sua compra e, posteriormente, nos custos da sua instalação.
O recente restauro, da responsabilidade de Dinarte Machado, teve como objetivo principal restituir, na medida do possível, a sua constituição original, seguindo as indicações dadas pelas próprias peças durante a desmontagem. Assim, no decorrer do restauro optou-se por uma filosofia de intervenção que tivesse sempre em conta as particularidades das peças originais, desde à configuração da caixa e policromia, à reposição da registação, tubaria, folaria, e até à colocação do instrumento no seu local original - a capela-mor. Ainda em relação à composição do instrumento, reintroduziu-se o meio-registo da mão direita, de palheta, que o órgão indicava possuir originalmente e que, de certa forma, o caracteriza. O teclado original, encontrado a monte e que se conseguiu recuperar, mantém a extensão da época com Oitava curta. Ficou completada, com grande rigor, a nova tubaria de acordo com as características que os poucos tubos originais conservados evidenciavam, comparada com as próprias indicações e dimensões do someiro, que também foi minuciosamente estudado e documentado.
Não há dúvidas que se trata de um dos mais belos órgãos da Ilha da Madeira, sendo um dos instrumentos que conserva algumas das mais relevantes características da organaria do século XVII em Portugal. É de salientar ainda que o trabalho de restauro desencadeado nesta peça exigiu o estudo de muita documentação, assim como comparações com outros órgãos da época. Uma vez que tais instrumentos não existem em Portugal, teve de se recorrer a dados em outros países.
