Dia 16 de dezembro, pelas 17h30, abre ao público, no Museu Etnográfico da Madeira.
A Lapinha do Caseiro foi um dos mais célebres presépios da Ilha, mantendo-se durante décadas como uma das grandes atrações do Natal madeirense.
Manteve-se exposta por mais de 70 anos, na Capela do Menino Jesus, no Caminho do Monte, tornando-se um local de passagem e de devoção, sobretudo no Natal, constituindo uma memória para consecutivas gerações de madeirenses, razão determinante para a aposta na sua salvaguarda por parte do Governo Regional da Madeira.
Francisco Ferreira, o “Caseiro”, nasceu na freguesia do Monte a 11 de outubro de 1848.
Artista autodidata, cedo demonstrou aptidão para talhar a madeira, esculpindo desde os seus 14 anos e tornando-se santeiro de profissão.
Foi autor de inúmeras imagens que se mantêm na Ilha, na posse de familiares, de particulares e dispersas por algumas igrejas (de Nossa Senhora do Monte, de Santo António, no Funchal e da Tabua, na Ribeira Brava). Outras perderam-se, possivelmente levadas para longe por emigrantes devotos.
Mas a obra da sua vida foi, de facto, o presépio. Iniciado na sua juventude, nele trabalhou até morrer, em 1931, tinha então 82 anos. Este conjunto narra o longo percurso deste artesão, testemunhando toda a sua evolução e a sua cada vez maior aptidão para talhar a madeira.
Francisco Ferreira não tinha instrução. Era a sua mulher e, mais tarde, a sua filha, Augusta da Soledade Ferreira que se encarregavam de lhe ler passagens do Antigo e do Novo Testamento. Profundamente devoto, assim se inspirava para melhor interpretar e executar os vários episódios bíblicos que ia introduzindo, à semelhança dos antigos quartos do Presépio que abrigavam inúmeras cenas sagradas.
Depois surgem os pastores a representar a realidade regional. São eles que melhor exprimem a real criatividade e a originalidade do autor. Inúmeras figuras, ingénuas umas, caricatas outras, retratam a sociedade urbana e rural madeirense, espelhando lides e ofícios quotidianos, vivências locais, relacionadas sobretudo com a freguesia do Monte. Tipos populares, vizinhos, amigos e o próprio Francisco Ferreira são figurantes únicos, testemunhos de existências perdidas, que desta forma, quase que por magia, conseguimos reencontrar.
Restaurada e incorporada no acervo do Museu Etnográfico da Madeira, a lapinha passou a integrar o percurso da exposição permanente e é aberta ao público, anualmente, nesta época, recuperando-se, desta forma, a tradicional visita dos madeirenses àquela lapinha.


