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Fortaleza de São João Baptista do Pico

Pico2As defesas da baía do Funchal

A prosperidade do Funchal nos finais do século XV, decorrente da produção açucareira, tornou a então vila bem conhecida dos comerciantes, nacionais e estrangeiros.
Neste período, e até meados do século XVI, não existia na Madeira, verdadeiramente, um sistema militar defensivo, apesar de vários problemas acontecidos com o corso e pirataria.
Em 1566 deu-se um ataque corsário de sérias proporções, comandado pelo corsário protestante Bertrand de Montluc, de nacionalidade francesa, à cidade do Funchal. Este acontecimento determinou a tomada de medidas urgentes na linha de reestruturação interna da defesa da ilha e em particular da cidade, com a construção, entre 1570 e 1590, de novas fortalezas, caso de São Filipe (1582); das reformas na Fortaleza de São Lourenço, que existia como baluarte pelo menos desde o segundo quartel do século XVI; da edificação de uma muralha sob orientação inicial de Mateus Fernandes, mestre das obras reais e destacado fortificador nesta ilha, a partir de 1567.
Com efeito, o Regimento de Fortificação de D. Sebastião, aprovado em 1572, implementou uma campanha de obras dotando a cidade com uma muralha defensiva, construída até meados do século XVII.
Sobre o domínio Filipino foi nomeado, em 1595, fortificador da ilha Jerónimo Jorge, substituindo Mateus Fernandes, que deu continuidade à construção de várias fortificações e troços das muralhas do Cabo do Calhau até à Fortaleza de São Tiago (1614) e ainda dando início à construção da Fortaleza São João Baptista do Pico (1602-03).
A partir de 1618, e durante cerca de quatro décadas, Bartolomeu João, mestre de obras reais, deu continuidade à obra de seu pai, Jerónimo Jorge, concluindo as fortalezas de São Lourenço, Pico e São Tiago e, ainda, a edificação dos fortes dos Louros (1649) e do Ilhéu de Nossa Senhora da Conceição (1652), como também o Reduto da Alfândega (1644).
No final do século XVII e princípios do XVIII, foram construídas novas fortificações na ilha, como o Forte Novo de São Pedro, junto à praia de Santa Maria, e realizadas obras no da Penha de França.
A defesa da cidade, através do cruzamento de fogos das várias fortificações, dificultava, assim, a entrada de navios inimigos na baía do Funchal, mantendo-a mais protegida.
Fortaleza de São João Baptista do Pico

A denominação de Fortaleza de São João Baptista do Pico ficou a dever-se à proximidade da Ribeira de São João e ao facto de ter sido edificada no Pico dos Frias, como é referenciado nos finais do século XVI. A construção da fortaleza só se verificou nas primeiras décadas do século XVII, sob a égide da dinastia Filipina (1580-1640). Antes de ser de pedra e cal, construção iniciada no ano de 1606 com o gasto de sessenta mil réis por uma caravela com quarenta moios de cal, era um simples castelo de madeira (1602-1603).
A Fortaleza de S. João Baptista do Pico funcionava como fecho da cortina da muralha sobre a Ribeira de S. João, tal como determinava o Regimento de Fortificação de D. Sebastião (1572), fazendo parte integrante do sistema defensivo da cidade do Funchal, contra os constantes ataques dos piratas, corsários franceses e mouros de Argel.
Já em 1582, D. Francés de Alava y Belmont (c.1518-1586), encarregado geral da artilharia de Filipe II, afirmara que as duas fortalezas existentes no Funchal eram insuficientes para a defesa da cidade e sugeriu a edificação da Fortaleza de S. João Baptista do Pico. Neste ano e por ordem régia,
D. Agustín de Herrera y Rojas (1537-1598), conde de Lançarote e encarregado dos negócios da guerra, deslocou-se ao Funchal, acompanhado de forças militares de Canárias e de Andaluzia, a fim de guarnecer as fortalezas da cidade, cuja tarefa foi mal sucedida por resistência dos camponeses. Este projeto ficou representado na planta de Mateus Fernandes, mestre das obras reais, arquiteto e fortificador, ativo entre 1567 e 1597.
Foi prolongada a construção da Fortaleza de S. João Baptista do Pico. Entre 1609 e 1613 estariam em curso as primeiras obras, e em 1618 foram executadas as fundações para a edificação das paredes. No tempo do governador Luís de Miranda Henriques Pinto (1638-1641) ultimaram-se as obras, tendo sido criada uma lápide na praça de armas para atestar o facto. A cisterna deverá ter sido concluída em 1639, conforme a inscrição no seu murete.
Segundo documentação coeva, divulgada por vários historiadores, o mestre das obras reais, engenheiro Bartolomeu João (ativo na Madeira: 1617/1618-1658), no ano de 1654 descreveu a Fortaleza de S. João Baptista do Pico como uma força inexpugnável, fabricada em uma penha, num monte alto e padrasto à cidade, tendo a mesma três praças, superiores umas às outras; uma ponte levadiça; uma cisterna com a capacidade para três mil pipas de água, cavada na rocha; com armamento de oito colubrinas, armas de fogo de longo alcance, de treze libras de bala. Já em 1630, o poeta Manuel Tomás referia esta fortaleza como soberba prometendo, / Sér deffensa à Cidade no combate (Insulana, Ed. 1635), testemunhando a sua localização estratégica e imponência cenográfica, no anfiteatro do Funchal, como o grandioso impacto da mesma na paisagem e o efeito dissuasor perante o inimigo.
Nos inícios do século XVIII (c.1730), foi construída a Capela de S. João, ou sua ornamentação, que acabou por ser demolida já no século XX, para dar lugar à construção das instalações da Rádio Naval.
Por ordem do governador e capitão-general António Jorge de Melo, a partir de finais do século XVII, a Fortaleza de S. João Baptista do Pico passou a servir de paiol, em consequência de um incêndio ocorrido na residência do governador na Fortaleza de S. Lourenço. Atesta documentação que em junho de 1758, o bispo e governador, D. Gaspar Afonso da Costa Brandão, escreveu para a corte denunciando o perigo que representava para o Funchal a existência de um armazém que concentrava a pólvora destinada ao provimento de todos os fortes e torres da ilha. Foi então construído um novo paiol, fora da Fortaleza de S. João Baptista do Pico, já em inícios do século XIX.
Durante um curto período, esta fortaleza foi denominada de Forte ou Castelo de S. Miguel, em homenagem aos Miguelistas, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), voltando à sua denominação inicial.
Em meados do século XX, a Fortaleza de S. João Baptista do Pico foi entregue à Marinha que ali instalou o Centro de Comunicações da Armada, ficando conhecida popularmente por Pico-Rádio.
No essencial, a Fortaleza de S. João Baptista do Pico mantém a sua estrutura original, de traça maneirista, com quatro baluartes pentagonais, que se desenvolvem interiormente em dois níveis, ficando no mais baixo a praça de armas, onde se encontra esta exposição.
Foi classificada de Monumento de Interesse Público em 1940.

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