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portal ciganoFoi aberta ao público, no Museu Etnográfico da Madeira - MEM (Ribeira Brava) uma exposição temporária sobre ‘O Cigano - Fogão de Farelo’.

Nesta mostra integrada no projeto denominado “Acesso às Coleções em Reserva” que tem como objetivo de proporcionar uma maior rotatividade das coleções, apresentando, semestralmente, uma nova temática, o MEM recupera agora e dá a conhecer, uma técnica secular de cozinhar os alimentos.

Desconhece-se a origem desta técnica, bem como da sua designação, embora esta última possa estar relacionada com o modo de vida da etnia cigana, o nomadismo, pois trata-se de um fogão de fácil transporte e montagem. 

Na ocasião, Fernando Líbano, técnico superior do MEM e autor da recolha e investigação que originou a exposição ontem aberta ao pública, explicou aos presentes aquela técnica secular, as suas possíveis origens e onde e como ainda hoje é possível ver um Cigano a funcionar de perto.

“O Cigano deve ter surgido entre a segunda metade do século XIX e princípio do século XX, quando havia uma procura intensiva da lenha na serra, o que fazia com que as pessoas tivessem de percorrer longas distâncias para recolher lenha. Com a proibição do corte de árvores nas serras, a lenha tornou-se um bem escasso e então foi preciso procurar alternativas. Neste caso, a alternativa foi o farelo proveniente das carpintarias e serragens, e do qual havia grande quantidade disponível”, explicou Fernando Líbano.

O técnico superior do MEM referiu ainda que o farelo é um material de difícil combustão, mas, “como a necessidade aguça o engenho”, foi criado um sistema que se baseia na prensagem do mesmo. Assim, o farelo é introduzido e calcado na lata, com dois paus roliços, um encaixado na vertical, outro na horizontal, que depois são retirados, formando o tubo de combustão, onde é ateado o fogo. A chama do Cigano é constante e duradoura, sendo capaz de cozinhar durante 5 a 6 horas. 

Fernando Líbano acrescentou ainda que esta técnica era usada um pouco por toda a Região, mas depois foi caindo em desuso até que em 2016 foi recuperada por Avelino de Canha Góis.

Atualmente, no sítio da 1ª Lombada, freguesia da Ponta Delgada, concelho de São Vicente, algumas famílias utilizam o Cigano, esporadicamente, sobretudo em convívios, em que se cozinha para um grande número de pessoas, poupando-se, desta forma, no gasto de gás, nomeadamente em datas como o 1.º de maio, na Serrada da Velha e na 1.ª Oitava, no Natal.

Na exposição, além dos painéis explicativos desta técnica de cozinhar alimentos, devidamente ilustradas por fotografias demonstrativas, o MEM revela ainda três exemplares de fornos de farelo. Trata-se de um mais pequeno, em cantaria mole ou pedra de tufo, que faz parte do acervo do museu e que está habitualmente exposto no espaço de exposição permanente "Unidade Doméstica: A Cozinha".

Estão ainda expostos outros dois, feitos para esta mostra e que, a partir de agora, passam a fazer parte do acervo do MEM: um em cantaria mole, da autoria de José Carlos Santos, construído para o efeito e que foi adquirido pela SRTC, no seio do projeto "Artesanato - Valorize e Compre o que é Nosso", e outro construído com uma lata de tinta reutilizada.

Presente na iniciativa, o secretário regional de Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, ressalvou a importância de mais esta exposição do MEM e enalteceu o trabalho realizado por este museu no sentido de mostrar esta técnica de cozinhar alimentos, “um método criado com elevado engenho e tendo em conta os recursos existentes na ilha”.

Eduardo Jesus sublinhou que esta mostra revela uma vez mais o exaustivo e importante trabalho que o MEM realiza ao nível da investigação e recolha de informações, com o objetivo de “dar a conhecer as nossas tradições, os nossos usos e costumes, aquilo que é mais genuíno, a nossa identidade”.

Refira-se ainda que a exposição poderá ser visitada até ao dia 2 de julho.

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