João Carlos Abreu escreve poema que retrata momentos difíceis que a Madeira e o Mundo atravessam.
QUANDO HOJE FOR AMANHÃ
Amanhã
quando este vírus maldito
deixar de voar
voltaremos aos braços
uns dos outros
Amanhã
encheremos de luz
as madrugadas escuras
das nossas inquietações
e dúvidas...
Amanhã
vestiremos com toda a força
da saudade que nos invade agora
de beijos e abraços
aqueles que tanto amamos
Amanhã
quando o tempo
deixar de estar encalhado
em nós
os nossos olhos navegarão
de novo no mar da nossa Ilha
e
os nossos horizontes
serão mais vastos e risonhos...
Amanhã
valorizaremos ainda mais
as flores dos jardins
o sol, a chuva, os abismos
e
calcorrearemos os caminhos
íngremes das nossas montanhas
aperceber-nos-emos
que a felicidade
não é a riqueza
é a liberdade de viver
e
respirar o ar puro
da terra
Todos os dias
todas as horas
todos os minutos
temos que nos curvar
perante
os médicos, os enfermeiros,
os bombeiros, os agentes policiais,
os verdadeiros heróis
desta batalha que tanto nos atormenta
e
os outros que na retaguarda
garantem os alimentos
correndo todos eles
riscos maiores
porque neles o amor
ultrapassa o medo da morte
e
quando hoje
for amanhã
tudo será diferente
haverá mais liberdade
e amor
Olharemos uns para os outros
com mais respeito e consideração
e
construiremos novamente
os sonhos e castelos
do nosso contentamento
por fim
verificaremos
que é na fragilidade
das nossas vidas
que residem as razões
do nosso viver...
25 de março 2020
João Carlos Abreu