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Madeira policromada, dourada e marfim.
Século 18 d.C.
Índia Portuguesa.
Não se encontra identificada a invocação desta imagem da Virgem com o Menino, resgatando uma alminha do purgatório, com um anjo ofertante. O culto das alminhas disseminou-se em Portugal maioritariamente a partir do século 17 e incide na crença no purgatório, nas almas que aí se encontram e que anseiam as orações dos vivos e a intercessão dos Santos, para encurtar o seu tempo de padecimento. A Virgem Maria é a sua principal intercessora junto de Deus e é assim que surge figurada, bem expressiva, protetora, cheia de graça, envolta num manto que só podia ser AZUL, a cor que lhe estava associada.
Nossa Senhora com o seu Filho, sentado sobre o braço esquerdo, estende a mão para a alma que, prefigurada numa criança, se eleva das chamas; ajoelhado a seus pés um pequeno anjo apresenta-lhe um cesto de oferendas. As figurinhas da criança e do anjo que se distinguem por uma ser alada, estão despidas e parcialmente envoltas por uma faixa. Maria veste túnica branca, guarnecida com ramalhetes de rosas vermelhas entre folhas verdes, sob um amplo manto azul que, apanhado sob os braços, lhe desce dos ombros até aos pés. Os cabelos castanhos estão soltos, semi-encobertos por um véu curto esvoaçante, de um tom amarelo-esverdeado. Todas as suas vestes, bem como os sapatos verdes que calça, estão enriquecidos com motivos pintados a dourado. Apresenta-se de pé, sobre uma nuvem, de cujos enrolamentos emergem três cabeças de querubins, um com asas vermelhas e dois azuis, e donde emanam à esquerda labaredas vermelhas. O Menino está nu, em atitude de “Salvador do Mundo”, com a mão direita erguida em sinal de bênção e a outra a segurar a orbe, ou o globo terrestre. O conjunto assenta sobre uma base escalonada, ondeada, pintada com efeitos marmoreados em tons de azul e branco. A peça é esculpida em madeira, à exceção do rosto e mãos de Nossa Senhora e das três figuras que representam o Menino, o anjo e a alminha, que são em marfim, com os cabelos, olhos e lábios pintados.
O marfim é apreciado desde a Antiguidade por ser raro, pela sua origem em animais com fortes conotações sobrenaturais e religiosas, como o elefante, o hipopótamo ou o narval, mas também pelas suas qualidades estéticas. A brancura, brilho suave e maciez são atributos que associados à plasticidade, permitem que seja trabalhado das mais diversas formas. Esculpido, gravado, tingido, pintado, dourado ou incrustado era utilizado na produção de objetos de luxo, utilitários, decorativos, religiosos ou em mobiliário. O melhor marfim era o obtido dos dentes dos elefantes africanos, posteriormente exportado para a Europa, onde na Idade Média e Renascença, se criaram importantes oficinas na França, Inglaterra, Itália e Alemanha. Em Portugal rareiam os exemplares anteriores ao século 16 e à nossa expansão por África e pela Ásia, regiões exportadoras, com larga tradição do trabalho em marfim. A partir dessa altura, a produção indo-portuguesa da costa ocidental sul da Índia, designadamente de Goa e Cochim, territórios de colonização mais antiga e enraizada, será claramente dominante em relação à de outras regiões. Em particular a da costa ocidental norte da Índia, através de Damão e Diu (mogol), do Ceilão atual Sri-Lanka (cíngalo-portuguesa), da China (sino-portuguesa) e do Japão (nipo-portuguesa).
Foi a missionação portuguesa no Oriente que originou a necessidade de esculturas religiosas de produção local, em materiais indígenas, como as madeiras exóticas e o marfim, destinadas ao culto religioso nas colónias cristãs estabelecidas. Não obstante algumas determinações proibitivas do fabrico de imagens sacras por parte de não crentes, tornou-se fundamental contornar essa questão uma vez que eram escassos os exemplares recebidos da metrópole. Aos poucos essa produção desenvolve-se e torna-se objeto de exportação, acompanhando uma tendência que se generaliza de colecionar peças exóticas e preciosas, ainda mais quando se tratavam de objetos devocionais destinados ao culto privado. Esta imagem, cuja figuração e movimentados panejamentos se aproximam dos modelos barrocos nacionais, seria com certeza destinada ao mercado português.
Créditos: Casa-Museu Frederico de Freitas
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