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A Capela de Nossa Senhora da Nazaré, na freguesia de São Martinho (Funchal), foi fundada em 1627 por Martim Vaz de Caires, figura proeminente da sociedade madeirense e de nobre geração, que faleceu em 1648. Está classificada como imóvel de interesse público (1940) e é propriedade privada.
É um templo de construção seiscentista: fachada principal em empena encimada por uma cruz; portal de recorte maneirista; cobertura de duas águas; adro amurado, com bancos corridos de pedra, e chão empedrado de calhau rolado. Possui um pequeno coro alto e sacristia adossada a norte, com janela gradeada e lintel reto.
O retábulo-mor é de talha dourada de “estilo nacional” (c.1675-1725), com colunas torsas ornadas com motivos fitomórficos (folhagens, cachos de uvas, videiras, pâmpanos), ático de arco de volta perfeita e capitéis coríntios com folhas de acanto e volutas. Este retábulo está integrado numa moldura pétrea executada em cantaria mole da região, ainda de estética maneirista (c.1627-1650).
Mas do seu património destaca-se o conjunto azulejar, de c.1718-1725, de pintura azul sobre fundo branco, que cobre as paredes laterais e fundeira da capela. Um painel votivo ocupa a parede do lado do Evangelho, representa o “Milagre de Nossa Senhora da Nazaré a D. Fuas Roupinho”, nobre cavaleiro do século XII e primeiro comandante naval português. Está atribuído ao pintor português António de Oliveira Bernardes (1662-1732), pelo desenho seguro e vigoroso, de pincelada solta e expressiva valorizada pelas manchas de tons azuis claros, transparentes e luminosos. Apresenta figuras numa composição fantasiosa representando uma cidade portuária (fortificação; navios de alto bordo embandeirados; pequenas barcas de pescaria; casarios; castelos; e igreja). Saliente-se as arquiteturas, com edifícios em perspetiva, integradas em paisagens, de grande cenografia. Os restantes painéis são mais arcaizantes, talvez de um discípulo de António de Oliveira Bernardes, mas também integrados na produção nacional do “Ciclo dos Mestres”, na senda estilística de Gabriel del Barco (1649-c.1703). Aqui estão representadas cenas galantes, pastoris e mitológicas.
Vários painéis, individualizados por cercaduras, ornam a parede do lado da Epístola: um monge capucho; um milagre; um monge, tonsurado; dois camponeses; um tocador de oboé; um pescador; um casal de pastores. Sobre a porta principal, uma jornada de três peregrinos: um coxo, que pela indumentária parece ser um nobre; um cego; um homem com muletas no chão.
Os azulejos, historiados, narrativos e policénicos são separados por cercaduras, frisos, barras e silhares com folhagens, enrolamentos de acanto, óvalos, figuras femininas com vasos de flores à cabeça, leões e atlantes no sopé, animais metamorfoseados, putti, festões, grinaldas e conchas, bem ao gosto do decorativismo barroco e rocaille.
A veneração a Nossa Senhora da Nazaré é muito antiga. Foi comum a sua devoção entre a nobreza portuguesa: D. Fernando; D. Manuel I; D. Leonor de Áustria; os descobridores e navegadores, como Pedro Álvares Cabral e Vasco da Gama; ou mesmo São Francisco Xavier.


Texto: Rita Rodrigues

Fotos : DRC, RR

Créditos: Direção de Serviços de Museus e Património Cultural

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