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No Dia Mundial do Livro, partilhamos convosco o projeto editorial do Museu Etnográfico da Madeira, a Coleção "Cadernos de Campo", divulgando os seus objetivos e conteúdos.
Este projeto editorial foi iniciado em 2017, tendo o museu já editado três números (“Artefactos em cana vieira”, 2017; “Traços de madeira – A arte de embutir, 2018; “Festas e Romarias da Madeira, 2019).
Além das edições, o projeto incluiu, nestes três anos, a apresentação de uma exposição temporária sobre a mesma temática e a organização de diferentes oficinas, oficinas e palestras, com a participação de especialistas em diferentes áreas e vários artesãos, orientados pelos técnicos dos Serviços Educativos do museu.
A coleção “Cadernos de Campo”, tem como principal objetivo trazer a público, como o design gráfico e o próprio nome sugerem, o resultado do trabalho de investigação efetuado pelo museu, em trabalho de campo, para recolha, inventariação, preservação e divulgação do nosso património cultural material e imaterial.
Estas edições não pretendem ser estudos teóricos exaustivos dos temas, mas, essencialmente, estudos etnográficos, de divulgação de utensílios, técnicas e rituais, recolhidos em trabalho de campo, ao longo dos anos, para estudo, inventariação, exposição e divulgação.
Estas obras têm, como um dos seus objetivos principais, salvaguardar e divulgar o “saber-fazer” ancestral, associado a várias atividades tradicionais, testemunhos do nosso património cultural imaterial, estimulando também potenciais jovens interessados em dar continuidade a algumas artes, motivo pelo qual privilegiamos, de uma forma criativa, nestas edições, a fotografia e a ilustração, apresentando, de forma minuciosa, as cadeias operatórias de confeção dos artefactos.
Os livros têm textos, fotografias e ilustrações, da autoria dos técnicos do museu, trazendo a público, o trabalho que toda a equipa desenvolve nesta instituição.

“ARTEFACTOS EM CANA VIEIRA”
O Nº1 desta coleção, “Artefactos em cana vieira”, trouxe a público, como o próprio nome indica a coleção de artefactos em cana vieira, que fazem parte do acervo do Museu Etnográfico da Madeira e que se encontram em Reserva.
Constituiu, em primeiro lugar, uma homenagem a todos os artesãos que colaboraram com o museu ao longo dos anos, transmitindo-nos o seu “saber-fazer”. Ao permitirem que efetuássemos o levantamento de toda a cadeia operatória daqueles artefactos, que hoje fazem parte da coleção do museu e que constituem testemunhos preciosos do nosso património cultural material e imaterial, contribuíram decisivamente para a salvaguarda da nossa “Identidade”.
A cana vieira, cana de roca ou cana-do-reino, planta disseminada por todo o arquipélago, foi uma matéria-prima utilizada na produção de inúmeros artefactos, nomeadamente cestaria, brinquedos, instrumentos musicais, utensílios de tecelagem, gaiolas, armadilhas e outros utensílios utilitários. A produção dos artefactos apresentados nesta edição possui uma longa tradição na nossa Região. Com a evolução tecnológica muitos destes artefactos perderam o valor utilitário, o que quase levou à extinção desta atividade artesanal, sendo já muito poucos os artífices que os produzem, motivo pelo qual, pretendeu-se valorizar e divulgar essas atividades artesanais tradicionais, que tanto nos identificam, mas que correm o risco de extinção, apelando à sua preservação.

“TRAÇOS DE MADEIRA – A ARTE DE EMBUTIR”
O Nº 2 desta coleção foi editado em 2018 e teve como objetivo divulgar a arte de embutir, com tradição secular na ilha da Madeira.
Possuindo a ilha um denso arvoredo, desde o início da colonização que o povo recorreu a esta matéria-prima, que o ambiente colocou à sua disposição, para a construção de inúmeros artefactos utilitários, decorativos, lúdicos ou religiosos.
A manufatura de mesas de chá ou de jogo, escrivaninhas, cofres, caixas e outros artefactos em madeira embutida foi uma das atividades que surgiu com a exploração das madeiras e que teve uma expansão e expressão significativa na ilha da Madeira.
Desconhece-se a data em que se terão começado a fazer este tipo de peças, mas remontam pelo menos ao século XVII a notícia da existência de embutidores na ilha e conhecem-se trabalhos artísticos, com muita qualidade, executados por mestres deste ofício que, habilidosamente, utilizavam as madeiras indígenas da nossa floresta Laurissilva.
Mas embora hajam notícias da arte de embutir já nos séculos XVII e XVIII, o seu período áureo foi na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, época na qual foram concebidas obras com muita qualidade, sendo de realçar os trabalhos apresentados em 1850 na “Exposição Industrial Madeirense” e os trabalhos concebidos na oficina de embutidos da Escola Industrial António Augusto de Aguiar, onde se formaram grandes mestres.
Com esta edição pretendemos valorizar este património cultural, divulgando as obras dos mestres embutidores que, desde essa época até os nossos dias, dignificaram esta arte na Região.
No embutido madeirense as tonalidades são naturais, sendo aproveitadas as melhores madeiras da ilha, o que o distingue claramente dos trabalhos industrializados, nos quais se recorre a corantes. Das várias espécies utilizadas, obtêm-se as diferentes tonalidades, que embelezam os desenhos ornamentais, valorizando estas peças. Por este motivo, dedicamos também um capítulo às diferentes espécies da nossa floresta laurissilva, cruzando a botânica com a etnografia e valorizando e divulgando os três tipos de património: o património natural e o património cultural material e imaterial.

“FESTAS E ROMARIAS DA MADEIRA”
Esta edição que teve início em 2003 num trabalho de campo, ao qual se deu continuidade até 2019, resultou do estudo e registo das festas e romarias, testemunhos de uma das mais ricas manifestações da nossa cultura popular.
Foram selecionadas algumas das festividades mais significativas do arquipélago da Madeira, utilizando-se o critério de uma festividade por concelho, com exceção de Machico, no qual se escolheram duas, pela sua especificidade e relevância.
Este projeto teve como principal objetivo a recolha, salvaguarda e divulgação deste património cultural imaterial da Região Autónoma da Madeira, contribuindo para a afirmação da identidade cultural madeirense.
No arquipélago da Madeira, em todas as paróquias celebram-se festas religiosas e romarias. A romagem é uma peregrinação popular ao lugar onde se festeja o santo. Normalmente têm origem numa lenda, ou nos primeiros colonizadores, pois estes trouxeram consigo os seus santos de devoção, os quais tornaram-se os santos protetores de uma determinada localidade.
Na Madeira, em todas as paróquias celebram-se estas manifestações religiosas, as quais são consagradas a Deus, ao Espírito Santo, a Nossa Senhora e aos santos, entidades representadas nesta edição.
As suas caraterísticas sagradas e profanas, que as distinguem e identificam são o objeto de estudo desta edição. De entre os rituais sagrados temos a celebração das novenas, as confissões, a missa, as promessas e a procissão. Cumpridos todos os rituais religiosos, o romeiro entrega-se ao divertimento, o arraial, a parte profana da festa, espaço onde se dança e canta, se come, se realizam trocas comerciais, se namora e se reforçam os laços sociais.
Porque as obras da coleção “Cadernos de Campo” pretendem constituir-se como instrumentos didáticos, que têm como objetivo a salvaguarda do património cultural imaterial, procurando dar a conhecer tradições que fazem parte da nossa identidade, são apresentadas algumas cadeias operatórias da confeção de artefactos, relacionados com estas festividades.
A ornamentação do adro da igreja e vias públicas, com bandeiras, arcos de verduras, flores e cordões de iluminação multicolor, é uma constante em todas as localidades madeirenses. Os técnicos do museu procederam a um levantamento, efetuado em diferentes concelhos da ilha, que teve como objetivo a recolha e valorização do “saber-fazer”, associado a essa apropriação do espaço.
São divulgadas, também, algumas receitas de iguarias, que podem ser consumidas nos arraiais e que fazem parte da gastronomia tradicional madeirense.
Pretende-se, com a divulgação destes “gestos e técnicas”, transmitir estes testemunhos, dando-lhes continuidade.

Créditos: Museu Etnográfico da Madeira

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