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A debulha dos cereais é o processo de extração do grão, que consiste em separar as espigas e desalojar o grão das mesmas.
No nosso arquipélago utilizavam-se diferentes técnicas e, consequentemente, diferentes utensílios nesta operação. A utilização de diferentes instrumentos, nesta fase de tratamento dos cereais, prendia-se, por um lado, com a quantidade de grão a extrair e, por outro lado, com as condições ambientais e a utilização a dar à palha.
Na ilha do Porto Santo utilizava-se o trilho, que quebrava a palha, visto esta não ser necessária para cobrir as casas, que ali eram cobertas com “salão” (barro local).
Já na ilha da Madeira era mais comum o uso do mangual, que não quebrava a palha, podendo ser depois aproveitada para cobrir as chamadas “casas de colmo”.
O trilho é “formado por um pranchão espesso de madeira, de lados convergentes no topo frontal, adquirindo o aspeto de uma proa, que será a parte dianteira onde se atrela o temão. A parte superior, à frente, leva uma trave curta e grossa, com um orifício largo que servirá para amarrar o temão com uma correia de couro ensebado. O lado traseiro também leva pregada uma outra trave em toda a largura, que será o apoio para o homem sentado ou para ali segurar a pedra a servir de peso. Mas é o lado de baixo o mais importante, pois constitui a verdadeira função do trilho na eira. Esta face inferior é cravejada de pequenas pedras de basalto, dispostas em linhas oblíquas (...).
A debulha com o trilho é morosa. Resumidamente, processa-se da seguinte forma: (...) o gado é trazido para dentro da eira, dando algumas voltas para calcar o grão. Depois canga-se-lhe o trilho. (...) A atrelagem do instrumento de debulha aos animais é feita por meio de uma canga especial, diferente da do arado ou da dos carros de bois; ela é mais pequena, os bois ficam mais próximos entre si, de forma a poderem ser melhor conduzidos na estreiteza relativa do local, mas também porque se movimentam em círculos regulares e, por último, pela necessidade de inverterem o sentido da sua marcha.
Para cada trilho é preciso uma pessoa a vigiar o trabalho, sendo importante manter os animais num movimento monótono, gritando-lhe constantemente. (...) Enquanto no início da debulha o vigia se senta em cima do trilho, a fim de o tornar mais pesado e mais eficaz no arrastamento, retira-se, passado algum tempo, deixando pesadas pedras a substituí-lo. A ação de vigilância não pode ser abrandada, primeiro para contrariar a molenguisse dos animais, segundo para levá-los a inverterem o sentido da sua marcha na eira. Além destes fatores, há um outro, sempre imprevisto e inesperado. Quando é essa a situação, o vigia corre a buscar um cesto para aparar os excrementos de algum dos bois, antes que caiam na eira e sujem o cereal a debulhar. Não existe o perigo de os próprios animais quererem comer a palha, pois estão habituados a esta proibição; alguma vaca mais renitente e abusadora leva um açaime no focinho. Passadas algumas horas, o volume do cereal inicialmente na eira diminui consideravelmente, juntando-se no chão o grão extraído pela ação continuada de arrastamento e trituração; na parte de cima fica a palha cortada.”
As Coleções do Museu. 
Ciclo dos Cereais. 
BIBLIOGRAFIA: BRANCO, Jorge Freitas, Camponeses da Madeira – As bases materiais do quotidiano no Arquipélago (‪1750-1900‬), Col. Portugal de Perto, Nº 13, Publicações Dom Quixote, 1987, pág. 72-73.

Créditos: Museu Etnográfico da Madeira.

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