Coleção do Museu Etnográfico da Madeira.
A palha de trigo, utilizada na ilha da Madeira para cobrir as casas, era também aproveitada na produção artesanal, nomeadamente na cestaria e na produção de chapéus, utilizados nos trabalhos agrícolas e na faina piscatória, como é o caso deste exemplar, que faz parte do acervo do museu e se encontra exposto na sala dedicada à atividade da pesca.
Na Madeira foi, portanto, comum o uso do “chapéu de palha de trigo”, com igual tradição em Portugal Continental nos trabalhos agrícolas, desde o Séc.XV, como revelam descrições da época: “os camponeses da Madeira usavam um largo chapéu de palha, em geral nas fainas agrícolas”.
Há, também, testemunhos do uso de chapéus produzidos nas ilhas da Madeira e Porto Santo, nos séculos XIX e XX, com “palmito” (folha de palmeira) quer pelos pescadores, quer pelos agricultores. Esta produção artesanal, de chapelaria em “palmito”, ainda está viva, mas apenas na ilha do Porto Santo.
Se, inicialmente, a palha de trigo, utilizada na chapelaria, abundava no nosso arquipélago, mais tarde passou a ser importada do Norte de Portugal. Ali o trigo é plantado com a finalidade da sua palha ser entrançada à mão, motivo pelo qual é ceifado antes de a planta “dar espiga”, para que não adquira um tom escuro.
Nos últimos tempos existiram pequenas oficinas no arquipélago, como a conhecida “Fábrica de Chapéus de Santa Maria”, que produzia os tradicionais “chapéus de carreiro” (“chapéus de palhinha”), entre outros artigos, e
que sobreviveu até o século XXI.
Segundo os registos das cartas de exame de oficiais mecânicos, parece que no final do século XVIII, princípio do século XIX, a profissão de chapeleiro estaria a desaparecer, havendo menos pretendentes a exame, o que deveu-se, provavelmente, à entrada de produtos já manufaturados.
Nos finais do século XIX, princípios do século XX surgem, no entanto, na Região, algumas “fábricas” de chapéus, com um considerável número de operários, como a conhecida Chapelaria Inglesa, na Rua da Carreira, freguesia de São Pedro, concelho do Funchal, como comprova o testemunho iconográfico desta unidade fabril (MFM-AV, em depósito no ABM, VIC/ 32936).
