Poderão ter origem remota no tema bíblico “Josué e Caleb trazendo uvas e outros frutos da Terra Prometida”, também denominado de “Retorno dos enviados à terra de Canaã”, pois são formalmente semelhantes. Neste episódio são trazidos, desta terra, uvas gigantes, figos, romãs e outros frutos como se encontra representado em várias pinturas existentes em igrejas da Madeira. A cena está relacionada com temas Eucarísticos, a devoção ao Santíssimo Sacramento e ao Espírito Santo, como consta, por exemplo, numa pintura de finais do século XVIII existente numa parede lateral da capela do Santíssimo, na igreja matriz da Ponta do Sol. Nesta capela, no retábulo em talha dourada, está representado ao centro uma pomba, símbolo do Espírito Santo.
Relativamente às charolas, na Madeira, em 1843, foi publicada no livro Recollections of Madeira uma imagem do desenhador William Springett e do litógrafo Thomas Picken, intitulada de “The Xerola”, composta por dois homens transportando numa vara uma enorme charola constituída por frutas e hortaliças atadas a uma estrutura esférica.
A tradição das charolas mantém-se na atualidade, na Madeira, como por exemplo no sítio da Fajã da Ribeira, na Ribeira Brava, durante a festa de São Pedro, e nas paróquias do Loreto e do Arco da Calheta. Nestas duas últimas paróquias as charolas são apresentadas durante a festa do Espírito Santo, relacionada com a solidariedade, a partilha e a ajuda aos mais carenciados. Na Fajã da Ribeira é elaborada uma grande charola, e nas paróquias do Loreto e do Arco a comunidade de cada sítio elabora uma charola existindo alguma competição entre os vários sítios. As várias charolas são transportadas a pé ou de carro para a igreja ou capela – o centro da festa –, e aí são expostas e leiloadas revertendo o valor arrecadado para as paróquias.
Nas tradicionais charolas madeirenses sobressaem os produtos agrícolas cultivados pela população local, como as semilhas, batatas doces, bananas, cenouras, abóboras, cebolas, couves, inhame, feijão, etc. As charolas simbolizam o “agradecimento dos agricultores pela fertilidade da terra e pelas bênçãos alcançadas durante o ano”, conforme refere Carina Teixeira, no seu livro, A presença das charolas nas festas do Espírito Santo do Arco da Calheta.
Em outras ocasiões, como nas tradicionais romagens de Natal, é também hábito em algumas paróquias da Madeira oferecer-se frutas e legumes atados a uma vara em forma de charola ou dispostos longitudinalmente ao longo da mesma.
Texto: DRC/Paulo Ladeira.
Josué e Caleb trazendo uvas e outros frutos da Terra Prometida”, finais do séc. XVIII, pintura na capela do Santíssimo, igreja matriz da Ponta do Sol.
“The Xerola”, desenhador William Springett e litógrafo Thomas Picken, publicada no livro “Recollections of Madeira, 1843, Londres.
Charolas na festa do Espírito Santo, igreja de São Brás, Arco da Calheta, 2018. Foto: Paulo Ladeira / DRC.
Charolas na festa do Espírito Santo, capela do Loreto, Arco da Calheta, 2016. Foto: Paulo Ladeira / DRC.
Charola na festa de S. Pedro, na Ribeira Brava, 2005. Foto: Hélder Ferreira / MEM.