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O Centro Cultural John Dos Passos junta-se hoje, dia 28 de setembro de 2020, a tantas outras instituições pelo mundo dedicadas ao estudo e divulgação deste escritor, que deu o seu nome a este Centro, no assinalar dos cinquenta anos sobre o desaparecimento John Roderigo Dos Passos, um dos mais prolíficos romancistas da chamada ‘Geração Perdida’ (Lost Generation), termo cunhado por Gertrude Stein e popularizado por Hemingway, outro seu contemporâneo.
Nascido a 14 de janeiro de 1896 em Chicago, Illinois, nos Estados Unidos, neto de um emigrante madeirense com origens na Ponta do Sol, ficou conhecido, sobretudo, pela sua trilogia U.S.A., que lhe angariou a reputação de historiador social e de crítico radical do modo de vida americano, pese embora o valor indubitável do conjunto da sua obra.
Licenciado em Harvard em 1916, fez o percurso de muitos dos escritores da sua geração, tendo sido voluntário na Europa durante a Primeira Guerra Mundial como condutor de ambulância para cumprir serviço em França em Norton-Harjes. Esta experiência, e o choque inerente do privar de perto com um mundo cruel e violento, encontra-se vertida nas suas primeiras obras, nomeadamente no seu amargo romance antiguerra Three Soldiers (1921).
As suas frequentes viagens à Europa, nomeadamente Espanha, e a outros países enquanto correspondente nos anos pós-guerra, permitiram-lhe um sentido histórico alargado e aguçaram a sua perceção social. Levaram ainda, e nessa fase da sua vida, à confirmação das suas simpatias com um veio mais radical.
O seu sucesso literário seguinte, o romance Manhattan Transfer (1925), confirma a sua transição do subjetivismo inicial para um realismo mais amplo e objetivo. Numa técnica narrativa modernista, que se tornaria ainda mais pronunciada na trilogia U.S.A, por onde desfilam, entre oscilações e rasgos impressionísticos, as vidas de mais de uma dúzia de personagens, a obra transmite um olhar de uma Manhattan que se apresenta impiedosa mas, ao mesmo tempo, cheia de vida e inquietude.
Na trilogia U.S.A. composta por The 42nd Parallel (1930), cobrindo o período desde 1900 até a 1ª Grande Guerra; 1919 (1932), com os anos da guerra até o ano crítico do Tratado de Versailles; e, finalmente, The Big Money (1936), que percorre velozmente o final dos anos 20 até o descalabro dos anos 30, Dos Passos oferece um retrato de um país dividido, dos Estados Unidos da América como “duas nações”. A montante deste olhar sobre o seu país está um acontecimento que o afetou profundamente – a execução dos supostos anarquistas Sacco e Vanzetti em 1927. Ele próprio participara na batalha inglória de tentar conseguir o seu perdão e viu, assim, confirmado este país dividido – o dos ricos e privilegiados e o dos pobres e impotentes. Numa mescla de técnicas que envolvem reminiscências pessoais breves e poéticas (a chamada técnica camera-eye), com montagens bem conseguidas de manchetes de jornais e canções populares da época (as conhecidas newsreels), que dão a sensação de verosimilhança histórica às histórias das suas personagens ficcionais, introduz, ainda e de modo disperso, biografias de representantes dessas mesmas duas nações: de um lado o Presidente Woodrow Wilson, o representante da indústria automóvel, Henry Ford, o inventor Thomas Edison e o financiador J. P. Morgan; do outro, o economista Thorstein Veblen, o socialista Eugene V. Debs, o sindicalista Joe Hill e o soldado desconhecido da Primeira Guerra Mundial.
A esta trilogia seguiu-se outra, a District of Columbia (compreendendo Adventures of a Young Man (1939), Number One (1943) e The Grand Design (1949)). É menos ambiciosa que U.S.A. e deixa perceber a desilusão crescente com a política radical, o movimento operário e o liberalismo do New Deal.
Dos Passos escreveu e publicou inúmeros outros títulos. Ao nível do texto dramático, publicou, em 1934, Three Plays, que, tal como o nome indica, contém três peças – The Garbage Man, Airways, Inc. e Fortune Heights. Adaptou, igualmente, com Paul Shyre, o seu U.S.A., que resultou no texto dramático USA: A Dramatic Revue (1959), que se estreou em palco pela primeira vez no Martinique Theatre, na cidade de Nova Iorque, a 28 de outubro de 1959, e teve mais 256 sessões. Com apenas três atores e três atrizes, revezando-se em trinta e tal personagens diferentes num cenário despido e luz crua, deu vida no palco à sua conceituada trilogia U.S.A.
Foi ainda responsável pelo guião para o filme The Devil is a Woman (1935), de Josef von Sternberg, com Marlene Dietrich no papel principal, adaptação do romance de Pierre Louÿs de 1898, La Femme et le Pantin.
Foi também pintor, tendo levado a efeito exposições e ilustrado as capas de algumas das primeiras edições das suas obras.
Em 1957, recebe a Medalha de Ouro na categoria de Ficção na cerimónia anual conjunta da Academia Americana e do Instituto Nacional das Artes e das Letras.
Ao longo dos anos, foi-se tornando progressivamente mais conservador do ponto de vista político o que também ajudou a fazer com que recebesse cada vez menos atenção da crítica. Faleceu aos 74 anos, a 28 de setembro de 1970, em Baltimore, Maryland.
Texto: Bernardo de Vasconcelos
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Livro e óculos de John Dos Passos.
 

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