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Os produtos resultantes da pecuária, agricultura e pesca, circulavam do campo para a cidade, e dentro da própria cidade, surgindo, deste modo, os vendedores ambulantes, indivíduos que os transportavam e vendiam pelas ruas.
Colocavam os seus produtos em cestas, tabuleiros, caixas, trouxas, cajados ou varas, que carregavam ao ombro, à cabeça ou a braços. Quando a carga era muito pesada, transportavam-na com o auxílio de veículos, puxados por animais, tais como a "corça" , o "carro chião", ou no dorso dos animais.
Os vendedores de cebolas e alhos, os chamados "homens das cebolas", geralmente munidos de um bordão, calcorreavam as ruas, logo pela madrugada, com as "réstias" ou "cabos" (entrançados, feitos com a rama dos mesmos, ou entrelaçados com outras fibras vegetais) pendurados numa vara, colocada aos ombros.
Traziam, penduradas em grossos pregos, pregados na vara, finas e compridas réstias de "cebolinha para escabeche", réstias mais curtas, com cerca de 70 a 80 cm, de cebolas "graúdas" (grandes) e curtas, mas espessas e duras, réstias de alhos.
No caso das cebolas, uma vez efetuada a colheita, havia que acondicioná-las, de forma a terem maior durabilidade, motivo pelo qual se confecionavam estes “cabos” ou "réstias", os quais mantinham-nas arejadas permitindo, facilmente, visualizar, se por acaso alguma apodrecesse, grelasse, ou fosse ‘tocada’ por algum agente externo.
Por outro lado, ajudava os homens a transportá-las, nas varas, quando se deslocavam das zonas rurais até à cidade, para proceder à sua venda.
Segundo alguns autores, estes vendedores usavam o pregão:"há cebooolas... e alhos, cebooolas e alhos". Alertadas por este som, as mulheres iam surgindo às janelas, nas portas das casas e nos portões dos jardins, angariando, desta forma, a sua clientela.
O processo de confeção destes “cabos” era simples. Colhiam as cebolas sem lhes cortar a “rama” e deixavam-nas secar, à sombra, para retirar a humidade. Limpavam-nas, retirando a primeira camada de casca e aparavam as raízes, rentes. Como a “rama” não era suficientemente resistente, para suportar o peso das cebolas, utilizavam, antigamente, tiras da folha de bananeira, verde, para servir de reforço, integrando-a na trança, que elaboravam com a “rama” das cebolas. Mais tarde, substituiu-se a palha de bananeira, por sisal ou ráfia natural.
Uma vez concluídas as tranças ("cabos" ou "réstias"), dependuravam-nas numa vara horizontal, elevada, em local fresco, seco e arejado.
A cebola é cultivada há muito tempo no nosso arquipélago, sendo uma cultura com importância relevante na Madeira, nomeadamente na freguesia do Caniço, no concelho de Santa Cruz, localidade muito próxima da cidade do Funchal, mas que preserva uma certa ruralidade e mantém as tradições.
O cultivo da cebola mantém-se, ali, há muitos anos, no seio de certas famílias e, talvez por esse motivo, poder-se-á afirmar que a designada "Festa da cebola", que procura valorizar e promover este produto agrícola, amplamente cultivado na freguesia, constitui a mais representativa festa da cidade do Caniço. Muito utilizada na cozinha tradicional madeirense, este produto agrícola entra na confeção de algumas entradas, molhos e pratos típicos.
Podemos referir "o molho de escabeche", molho, aliás, com muita tradição em todo o país, ou a "cebolada", que servem para acompanhar ou temperar vários pratos, especialmente de peixe.
São também muito conhecidas, as chamadas "cebolinhas de escabeche", ou seja, as "cebolinhas miúdas", fervidas, descascadas e conservadas em frascos, com vinagre, louro, pimenta da terra, cravinho e bagas de alcepás, presença obrigatória no Natal madeirense.
De referir, ainda, a sopa de tomate e cebola, uma das referências da cozinha tradicional madeirense, servida com ovo escalfado e pão. No Alentejo existe uma sopa, semelhante, com idênticos ingredientes e semelhante modo de confeção, pelo que poderá ter sido aqui introduzida pelos primeiros colonos, vindos do Alentejo, à semelhança de tantas outras tradições.
TEXTO: Museu Etnográfico da Madeira

FOTOGRAFIA: Vendedor ambulante de cebolas e alhos, na rua das Fontes, Freguesia da Sé, Concelho do Funchal. Foto Figueiras, entre 1930 e 1937, MFM-AV, em depósito no ABM, PHF/22.

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