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A designação de "trabalhadores servis" era atribuída ao conjunto de pessoas que viviam na dependência económica das classes priveligiadas, em regime de prestação de serviços, quotidianos ou semanais.
A designação mais comum para estes trabalhadores servis era "moços das cestas" ou "rapazes das cestas" pois tratava-se, na, sua maioria, de rapazes, ainda crianças ou adolescentes.
A sua função era transportar cestas, das zonas mais distantes das diferentes freguesias do concelho do Funchal, até às fábricas, oficinas, estabelecimentos comerciais ou escritórios, no centro da cidade, com o almoço dos operários ou funcionários que devido a residirem a grandes distâncias e sendo escassos os transportes, não podiam se deslocar a casa para almoçar.
Contudo, este serviço era, também, prestado por homens adultos e, por vezes, até por mulheres.
Não eram só aqueles que moravam nas freguesias mais distantes, do centro da cidade, que usavam este serviço. Havia pessoas, das classes mais abastadas, que apesar de morar perto, aproveitavam a hora do almoço para descansar ou conviver próximo do local de trabalho. Nestes casos, eram geralmente mulheres, ou os moços serviçais da casa, que lhes levavam o almoço.
As refeições eram preparadas em casa, pelos familiares, embrulhadas em toalhas, e colocadas nas chamadas "cestas de almoço", de formato retangular ou quadrangular mas, por vezes, também circulares, todas elas com asas de vime torcido e com tampas.
Estas "cestas de almoço" eram também utilizadas, individualmente, por operários, que trabalhavam nas zonas citadinas, durante todo o dia, mas que transportavam as suas próprias cestas, pois não tinham posses, para recorrer à prestação daquele serviço, ou, nas zonas rurais, pelos agricultores, que trabalhavam de sol a sol, tendo de levar o almoço para o campo, ou, ainda, pelos "romeiros", a caminho das grandes festas e romarias, para transportar a tradicional refeição.
Na cidade, as "cestas de almoço" eram transportadas em grossas varas, usualmente de urze e ligeiramente côncavas, que eram colocadas ao ombro. Nas extremidades, eram colocados ganchos, para enfiar as cestas, pelas asas, ou amarrá-las. Transportavam entre 3 a 5 cestas, de cada lado da vara, consoante a capacidade física do carregador, enfiadas por uma ordem previamente definida, tendo em conta o percurso a efetuar.
Com uma mão seguravam a vara e, na outra, transportavam uma espécie de bordão, bifurcado na sua extremidade, que lhes servia de apoio na caminhada, mas, essencialmente, para apoiar a vara, sem retirá-la do ombro, quando paravam no seu destino, para retirar cada cesta, evitando movimentos bruscos e o bater das cestas no chão.
Geralmente permaneciam na cidade e, no final da tarde, efectuavam o mesmo percurso, no sentido inverso, para proceder à recolha das cestas, entregando-as, depois nos respetivos domicílios.
Contudo, segundo alguns autores, existiam outras formas de transportar as "cestas de almoço". Quando em menor número, eram transportadas na mão. Quando se tratava de maior quantidade eram transportadas nas "corsas" (veículos de arrastamento, puxados por animais), ou, havia mulheres que as transportavam à cabeça.
O vime constituiu uma matéria-prima privilegiada na produção cesteira tradicional madeirense. Ao natural ou previamente preparado, era utilizado na confeção dos mais variados cestos.
Ao longo dos tempo, a morfologia dos cestos foi evoluindo e se alterando, surgindo novas formas, utilitárias e decorativas, adaptadas às novas necessidades e exigências do mercado, fazendo desaparecer muitos modelos tradicionais. Mais recentemente, o aparecimento de cestaria produzida de forma industrial e o surgimento de novas matérias-primas e objetos modernos, adequados às mesmas, ou a novas necessidades, levaram ao quase total desaparecimento das tradicionais "cestas de almoço".
Créditos: Museu Etnográfico da Madeira
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