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Desde o início do povoamento, que existia autorização para apascentar gado na serra e o planalto do Paúl da Serra terá sido a pastagem mais povoada, de gado lanígero, em toda a ilha, existindo, segundo consta, centenas de criadores, de diferentes concelhos, que utilizavam aquele baldio como logradouro comum, sendo o pastoreio uma atividade comum.
A florestação dos baldios, a diminuição das áreas de pastagens disponíveis e as medidas restritivas à pastagem do gado na serra, bem como o êxodo rural, contribuíram para a diminuição da criação de gado ovino e caprino, e para a quase extinção da profissão tradicional de pastor.
O ofício de pastor era uma atividade solitária. Ainda antes do sol nascer, munidos dos seus bordões de conto (com ponta de ferro) deslocavam-se ao cimo das nossas serras, com uma corda grossa ao ombro, até o local onde sabiam deambular as suas ovelhas e cabras, que reconheciam por uma marca caraterística, um corte feito nas orelhas dos animais, com uma navalha de folha larga, instrumento que os acompanhava no seu quotidiano.
Iam cuidar do rebanho, conduzi-lo para pastar, contá-lo e registar quantos animais estavam “prenhes” (grávidos). Ali passavam um ou mais dias, chegando a pernoitar na serra, junto dos animais, abrigados nas reentrâncias das rochas ou em palheiros dispersos.
Embora o traje variasse, de freguesia para freguesia, era comum o uso do chamado “traje serrano”, próprio das zonas mais altas das freguesias, com um clima mais frio, constituído, geralmente, por calças e “jaleco” (colete) em lã de ovelha, ou "seriguilha" ( mistura de lã e “estopa”, parte mais grosseira do linho), camisa de linho e um barrete de lã grossa, que lhe tapava as orelhas, o chamado “barrete de orelhas” ou “barrete de vilão” e calçavam as chamadas “botas de campo”, confecionadas com pele de vaca e sola de borracha.
Com eles levavam, pendurados à cintura, ou a tiracolo, um saco de pano ou lã, no qual transportavam a comida e uma cabaça com vinho.
Além da carne e do leite, proveniente destes animais, os proprietários de gado lanígero, obtinham, também uma preciosa matéria-prima: a lã.
As tosquias, para obtenção da lã, muito utilizada na confeção dos nossos trajes populares, constituíam um acontecimento de grande importância na vida da população rural, das zonas serranas, reunindo todos os pastores numa grande azáfama.
As tosquias realizavam-se, geralmente, durante o mês de junho e, ao longo do dia, procedia-se a diversas operações. Em primeiro lugar, o gado era reunido e encaminhado para as construções em pedra solta, ou montadas com paus de urze, os chamados “cercos”, “arrumos” ou “terreiros”.
Cada proprietário ou pastor procurava as suas ovelhas, pela marca privativa que as identificava (o corte nas orelhas) conduzindo-as, pela encosta, até ao seu “cerco”.
Iniciado o processo das tosquias, retiravam as suas ovelhas, deitavam o animal de costas, com as patas dianteiras amarradas, a fim de lhes impedir os movimentos e tosquiavam-nas, com o auxílio do podão, uma espécie de tesoura, composta por uma mola e lâminas afiadíssimas.
Terminadas as tosquias, o gado era de novo solto na serra e a lã era recolhida e transportada à cabeça sendo, depois, aproveitada na confeção de peças e acessórios de vestuário ou roupas de uso doméstico, nomeadamente tapetes e mantas. Era, também, utilizada, para encher almofadas e colchões.
Lavada, cardada e fiada, a lã de ovelha era tecida no tear tradicional, muitas vezes misturada com o linho, tecido designado de “seriguilha”.
A lã era usada ao natural, ou tingida, recorrendo as tecedeiras a processos de tinturaria artesanais. Para obter o colorido desejado, no tingimento da lã, as tecedeiras aproveitavam os recursos naturais da ilha, de origem vegetal, de criação espontânea ou introduzidos.
TEXTO: Museu Etnográfico da Madeira
FOTOGRAFIA: MFM-AV, em depósito no ABM, PHF/74
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