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Inicialmente, quando a produção de trigo era grande, a sua palha era aproveitada não só na cobertura das casas, mas, também, na produção artesanal, nomeadamente na cestaria e na produção de chapéus.
Estes eram utilizados, essencialmente, pelos agricultores, para protegerem-se do sol, durante a faina agrícola, mas, também, pelos pescadores, quando iam para o mar ou pelos “pesquitos”, que vendiam o pescado e, mais tarde, noutras profissões, como os boieiros ou carreiros. Esta, terá sido introduzida na ilha pelos primeiros colonizadores, sendo muito comum, na região minhota, a utilização de fibras vegetais, como a palha do trigo ou do centeio, para, a produção de tranças e chapéus.
Em Câmara de Lobos, há notícia da atividade artesanal de chapéus, com a utilização da palha de centeio. Segundo consta, estes artífices, ali designados por “palheiros”, confecionavam o chamado “chapéu-à-graciosa”, ou “chapéu-desabado”, de abas muito grandes, usado, geralmente, pelos pescadores. Tratava-se de um trabalho artesanal, que, a par da agricultura, contribuia para a pobre economia familiar da época.
Os, artesãos limpavam a haste de todas as folhas, aproveitando os entrenós, as quais eram clareadas com fumo de enxofre e divididas, depois, em fitas, com o auxílio do “rachador”. As fitas eram esmagadas, entre dois pequenos cilindros de madeira, ou pressionadas, com uma faca, até se tornarem maleáveis, para poderem fazer as tranças (com quatro a seis fitas), com as quais iriam dar forma ao chapéu.
Inicialmente confecionados com os recursos naturais existentes na ilha e concebidos com variadas formas e adquirindo diferentes designações, os chapéus de palha foram gradualmente desaparecendo, e com eles foi se extinguindo, o ofício de “palheiro” ou chapeleiro.
No entanto, no século XX, a indústria artesanal de chapéus de palha manteve-se, no número 237 da Rua de Santa Maria, no concelho do Funchal, onde se encontrava instalada a “Fábrica de Chapéus de Santa Maria Maior”, fundada, em 1948, por três irmãos.
Dois deles, José Pestana e João Pestana, exerceram ali o seu ofício, durante muitos anos. Naquele espaço, produziam-se e comercializavam-se “chapéus de pala” (de copa redonda e achatados) e as tradicionais carapuças.
José Pestana aprendeu o ofício, ainda jovem, numa chapelaria situada na Rua do Carmo. Era ele quem confecionava o chamado chapéu “canotier” ou “chapéu palheta”, um modelo que foi, durante muitas décadas, o chapéu de palha de eleição, utilizado pelos homens. Atualmente é mais conhecido, na nossa Região, como “chapéu dos carreiros do Monte”, visto fazer parte do traje usado pelos “carreiros”, que conduzem os “carros de cesto”, na freguesia do Monte.
A matéria-prima utilizada na sua confeção, a palha de trigo, inicialmente obtida na ilha foi, posteriormente, importada do Norte de Portugal. Ali o trigo era plantado com a finalidade da sua palha ser entrançada à mão, motivo pelo qual era ceifado antes de a planta “dar espiga”, para que não adquirisse um tom escuro.
O processo de fabrico deste tipo de chapéu iniciava-se com a operação de enrolar a trança, que era executada com o auxílio de um pequeno martelo, com o qual o artífice batia na palha, de modo a endireitá-la e ajustá-la. Depois, a trança era cosida, inicialmente à mão, mais tarde na máquina de costura. Enquanto o cosia, o artesão imprimia-lhe um movimento giratório, constante, modelando-o à mão nua, para obter a forma desejada. Iniciava a confeção do chapéu pela da “copa” e fazia, depois, a “aba”. Finalmente, era colocado sobre a forma de madeira respetiva (as formas correspondiam aos diferentes tamanhos, que iam desde o 48 ao 64), era protegido por um pano humedecido e era engomado.
Para finalizar este artefacto, o artífice cosia uma faixa de tecido, de cor preta, na qual estava impressa a palavra “Madeira”, identificando a origem visto, atualmente, ser um produto essencialmente comercializado para os turistas.

Créditos: Museu Etnográfico da Madeira

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