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O boieiro, tradicionalmente, era o guardador ou proprietário de uma junta de bois e se se ocupava do transporte de mercadorias. Na cidade do Funchal, permaneciam no calhau, com os bois emparelhados, desde madrugada até o pôr-do-sol, prontos para prestar os serviços que lhes fossem solicitados. Nas zonas limítrofes, circulavam até onde a orografia do terreno, lhes permitia, sendo a carga, no restante percurso, transportada às costas. Mais tarde esta profissão ficou associada aos chamados carros de bois, usados no transporte de pessoas.

Mais tarde, o ofício generalizou-se, sendo esta designação atribuída ao condutor do "carro de bois" madeirense, meio de transporte que terá influência do modelo do carro de bois do nordeste português e da tradicional "corsa" madeirense, um veículo de arrasto, utilizado para o transporte de mercadorias.
Com lotação para quatro pessoas, foi muito utilizado na primeira metade do século XIX, essencialmente na cidade do Funchal, visto ser impróprio para as encostas e caminhos íngremes das zonas rurais. Contudo, o seu uso não foi muito comum entre o povo. Apenas as classes mais abastadas, possuíam uma junta de bois ou cavalos para o utilizar como transporte, e, teriam condições para a manutenção regular, necessária a este tipo de veículos.
Mais tarde, este tipo de transporte, com caraterísticas mais populares, com cores garridas na caixa e cortinas e almofadas forradas em tecido com motivos florais, generalizou-se na cidade do Funchal, para uso dos turistas, tendo circulado na então designada “Avenida do Mar”, atual Avenida das comunidades Madeirenses, até os anos 80 do século XX.
Assemelha‑se a um tipo de “semicaleche”, sem rodas, arrastado por bois. Consiste numa caixa de madeira, ou parte entrançada de vimes, feita de castanho, til ou vinhático, apoiando‑se em pilhas de “meias‑molas” de dinamómetro sobre a soleira coberta por uma fita metálica. No seu interior existiam dois sofás de vime, colocados frente a frente, forrados com tecido, protegidos do sol e da chuva com um toldo.
À frente dos bois ia um rapaz, a que se chamava o "candeeiro" , que se encarregava da soga (tira de couro que se prende ao boi e pela qual ele é guiado e puxado) e ajudava nas tarefas necessárias.
Ao lado do carro ia o "boieiro", trajado de branco, com botas de campo (couro de vaca e sola de borracha) e chapéu de palha de trigo, com a “agulhada em punho”, ou seja, munido de uma vara comprida, com um aguilhão de ferro na ponta, a fim de picar os bois, castigando-os ou indicando a direção e a velocidade a tomar.
Para facilitar o atrito e escorregamento dos carros, usavam um pano, cheio de sebo, que lançavam no chão, adiante do carro, e sobre o qual este passava, deixando ensebadas as ruas, apesar da postura municipal, que proibia o uso do sebo.
Quando eram proprietários do gado, os "boieiros", antigamente, utilizavam, também, a sua “junta de bois”, para puxar as “corsas”, meios de transporte de mercadorias, constituídos por uma prancha de madeira, que possuía, aos lados umas tiras de madeira. Na parte frontal possuía uma abertura, por onde passava uma correia, ligada à chamada” lança” ou “sola”, que permitia a sua atrelagem aos animais. Para evitar o aquecimento e desgaste e para facilitar o seu deslizamento, também utilizavam uma “trouxa” de pano, embebido em sebo, introduzida por baixo da corsa. Este processo era usado, aliás, em todos os veículos de arrasto.
TEXTO: Museu Etnográfico da Madeira
FOTOGRAFIA:Carro de bois, Avenida de Zarco, Funchal, MFM-AV em depósito no ABM, PER/846
BIBLIOGRAFIA:
SIMÕES, Álvaro Vieira e SUMARES, Jorge e SILVA, Iolanda; Transportes na Madeira, D.R.A.C. Funchal, 1983
BARCELOS, J.M. Soares de, Dicionário de Falares do Arquipélago da Madeira, Serviço de Publicações, Direção Regional da Economia, Turismo e Cultura, Funchal, 2016
 
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