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O chamado fogo preso já existia no século passado. Era muito apreciado em toda a ilha e presença obrigatória nos arraiais.
Antigamente, adquiria tal importância, que era comum exibi-lo num local público e ser organizado um cortejo, acompanhado pela banda, para transportá-lo até o local do arraial.
Existiram muitas fábricas espalhadas pelos diferentes concelhos da ilha, que fabricavam o fogo artesanalmente. No entanto, com o tempo, estas foram-se extinguindo, tendo a última funcionado no Sítio do Lombo do Doutro, no concelho da Calheta, na qual a equipa do museu efetuou, uma recolha de toda a cadeia operatória, da produção artesanal de um foguete.
Já só trabalhava na fábrica um antigo funcionário da mesma, José António Martins, que exercia o ofício de pirotécnico há mais de vinte anos e era o “fogueteiro de serviço” em muitas festas e romarias de diferentes concelhos da nossa ilha e que nos transmitiu o seu "saber-fazer".
Ocupando um lugar de destaque nos festejos, a queima do fogo tinha início na véspera da festa, ao meio-dia, com as “girândolas de morteiros”.
A girândola era montada num muro, próximo da igreja, em local seguro. José António ia, usualmente, aos locais onde tinham lugar as festas, acompanhado da família, que o ajudava a montar a “girândola” e a lançar os foguetes.
As chamadas salvas, uns paus compridos, com pequenos orifícios, eram colocados em cima do muro e eram depois suspensos, com o auxílio de pequenos paus, junto ao muro. Estendida e amarrada a guia, ao longo dos paus, eram colocados os foguetes, de diferentes dimensões, nos orifícios das “salvas”. Cada “salva” leva 21 foguetes e é este conjunto de salvas que obtém a designação de “girândola”.
Às 12h00 eram lançados, em primeiro lugar, apenas três foguetes isolados, os chamados “três sinais”, depois uma “salva” isolada e só depois era queimada a "girândola".
Para lançar os foguetes um homem segurava nos foguetes e ia passando-os ao “fogueteiro” que acendia a guia e fazia-os “subir”.
Em tempos idos a queima do fogo preso constituía um verdadeiro espetáculo de luz e cor, no qual os pirotécnicos, usando a sua imaginação, apresentavam diversas figuras, nomeadamente leques luminosos, navios, rodas, bonecos e a tradicional “girândola”.
Atualmente, apenas se mantêm, em certos arraiais, as figuras antropomórficas do “velho” e da “velha” e a “roda manhosa”, sendo, no entanto, as “salvas” de foguetes e a “girândola”, o “fogo preso” mais comum.
A “velha” e o “velho” são dois bonecos repletos de artefactos pirotécnicos, que giram à medida que são consumidos pelo fogo e a “roda manhosa” é um artefacto com a forma de uma roda, na qual estão dispostos vários foguetes que, à medida que são lançados, a fazem girar.

Apesar de se manterem, nas festas e romarias, em maior ou menor número, alguns artefactos de pirotecnia, o “fogueteiro”, que lança os foguetes isolados e que acompanha a banda nos cortejos de oferendas, nas visitas pascais e em tantas outras ocasiões festivas, ao longo do ano, continua a ter um papel preponderante.

Créditos: Museu Etnográfico da Madeira

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