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Aproveitando-se a energia hidráulica, construíram-se, na ilha da Madeira, inúmeros "moinhos de água", enquanto no Porto Santo, devido à escassez dos recursos hídricos, eram comuns os "moinhos de vento" .
A maior parte dos moleiros possuía engenhos construídos por si ou herdados de familiares e eram ajudados, usualmente, pela família, participando a esposa e filhos, ativamente, nas tarefas diárias.
Este moinho, localizado no sítio da Achadinha, freguesia de S. Jorge, concelho de Santana, era propriedade de Lino Albino Mendonça, que o havia herdado do seu pai. O moleiro e a sua esposa, Ana Rosa, mantiveram o moinho em funcionamento, nos moldes tradicionais, até o século passado, e transmitiram-nos o seu "saber-fazer", permitindo registar testemunhos preciosos, que fazem parte do espólio documental do museu.
Coberto de um fino pó branco, o mesmo que cobria o interior do moinho, o moleiro trabalhava, arduamente, dia e noite, ali pernoitando, quando necessário, num pequeno quarto contíguo, improvisado para o efeito.
As tarefas do moleiro eram inúmeras. Era necessário percorrer a levada, que conduzia a água até o local, garantindo a sua limpeza, abrir e fechar a comporta ("adufa"), para desviar a água até o "cubo", estrutura inclinada, que a conduzia ao moinho, bem como limpar a grelha ("cuador"), junto à comporta, quando ali se amontoavam folhagem e gravetos.
No compartimento onde trabalhava o moleiro, encontravam-se dois casais de mós, trabalhando independentemente. Uma destinava-se a milho e a outra a trigo. Isto porque o material das pedras variava, consoante o cereal. Pedras de basalto para o trigo e de calcário para o milho.
A "moenda" , ou seja, o mecanismo de moagem propriamente dito, era constituído por um par de mós de pedra, a superior que era móvel e a inferior que era fixa, entre as quais se processava a farinação do cereal. Tratavam-se de pedras circulares, altas e pesadas, com um buraco redondo no meio, denominado por "olho da mó".
Do moleiro dependia o controle de todo o funcionamento do moinho, que incluía várias operações, nomeadamente, usar a tarracha de ferro, para abrir e fechar os "bocais", localizados na chamada "cova do moinho", onde estavam os "rodízios" (rodas motrizes), de modo a controlar a força com que a água batia nas penas dos mesmos; deitar o grão na "moega" (caixa em forma de pirâmide invertida, colocada sobre a mó superior) e controlar a sua queda, através da maior ou menor inclinação da "bica" (calha de madeira inclinada, onde caía o grão); era também ele que, por meio da "tarracha da ponte", dava pequenos deslocamentos verticais, de modo a fazer variar o afastamento entre as mós, obtendo a grossura desejada para a farinha.
As duas mós encontravam-se no interior de uma estrutura, com um tampo de madeira, caindo a farinha numa caixa, protegida por um pano, pelo que, no final da "moenda", o moleiro varria a farinha que caía na caixa, retirava-a e peneirava-a, no tradicional peneiro, movido a manivela, para depois acondicioná-la nos sacos de pano, que seriam entregues aos clientes.
Era ainda, necessário, retirar as pesadas pedras (as mós) para serem picadas, periodicamente, de modo a que estivessem em condições adequadas para proceder, diariamente, à farinação dos cereais.
A medição dos cereais era feita com medidas de madeira, como o "alqueire", o "meio alqueire", a "quarta" , a "oitava" e a "maquia" , e o pagamento ao moleiro era efetuado mediante a entrega de uma porção do cereal transformado, que variava entre os 10 e os 15%.
As receitas do moleiro provinham, também, da venda da farinha, obtida com os cereais que ele próprio plantava ou do grão que adquiria a outros agricultores, para transformar em farinha.

Créditos: Museu Etnográfico da Madeira.

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