O "borracho" resulta do aproveitamento da pele de cabra que, por ser um material resistente e maleável, adapta-se a contentor de líquidos.
Os "borrachos", ou "odres" como são também conhecidos, assumiram um papel importante na circulação interna do "mosto", sendo utilizados, tradicionalmente, para transportar o sumo da uva pisada no lagar (mosto ou vinho novo), desde o lagar, onde eram pisadas as uvas, até as lojas onde se encontravam as pipas, para armazenamento.
A tradição do "odre", para o transporte de líquidos, está documentada no mundo mediterrânico, desde a Antiguidade. Os mesmos estão testemunhados no século XV, em Portugal, e no século seguinte, na Madeira.
No século XVI surgem referências avulsas a este contentor e à existência do ofício de "odreiro".
A primeira representação do seu fabrico e uso surge no cadeirado da Sé do Funchal, datado de princípios do século XVI.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, abundam nos testamentos, referências a este recipiente, então chamado "odre" e até o último quartel do século XVIII continuou a utilizar-se esta designação.
A expressão "borracho" será uma criação mais recente, uma vez que não se encontra essa designação em séculos anteriores.
Está ainda por apurar a sua origem na Madeira, pois tanto pode ter raízes na Península, como no norte de África, ou nas vizinhas Canárias.
A população indígena do arquipélago, de onde os madeirenses trouxeram os primeiros escravos, utilizava este tipo de vasilhame, sob a designação de "zurrones", para guardar o "gofio" e leite de cabra.
Também a participação madeirense nas campanhas militares marroquinas, poderá ser uma explicação para o seu aparecimento na nossa ilha.
Este artefacto, mantém a forma da pele do animal, que é utilizada, voltada de dentro para fora, sendo apenas amarradas as aberturas das zonas das patas e da cabeça. É pela abertura do pescoço, por ser a maior, que se introduz e retira o vinho.
Até há relativamente pouco tempo, ainda se faziam "borrachos", em grandes quantidades, no Porto da Cruz, freguesia pertencente ao concelho de Machico.
É um contentor de fácil transporte, porque adapta-se bem às costas de quem o transporta.
A suspensão faz-se, ligando a pele dos membros próximos, anteriores e posteriores, em forma de "ansas", às quais se prende a testeira – "arricol" – formada por duas cordas paralelas (de "estopa", entrançada), que vem apoiar-se sobre o frontal do transportador.
Os homens que os transportavam às costas, eram designados de "borracheiros". Caminhando, usualmente, numa fila única, percorriam longos caminhos íngremes, inacessíveis a outros meios de transporte.
Créditos: Museu Etnográfico da Madeira