Vinham, antigamente, do campo ou dos arredores, até à cidade do Funchal, vender a fruta da época: antes do Natal chegavam os peros vermelhos da Alegria e da Ponta do Pargo, os malápios do Santo da Serra e as pequenas maçãs barral e as grandes reinetas da Camacha; janeiro e fevereiro eram os meses das nêsperas de São Roque, Santo António, S. Martinho e Câmara de Lobos; abril, maio e junho era a época das cerejas, miúdas, do Curral das Freiras, do Estreito de Câmara de Lobos e da Serra de Água. Nos Santos Populares, no mês de junho, traziam as suculentas "peras de S. João". Não havia estação do ano, que os vendedores não tivessem frutos variados, para a clientela da cidade. No Verão, eram muito esperados os tabaibos, que eram vendidos de porta em porta e habilmente descascados pelos homens da fruta, que, com o auxílio de uma navalha e após um corte, primeiro no topo e, depois, longitudinal, em todo o seu comprimento, retiravam toda a casca, oferecendo apenas a polpa ao cliente
Quase em simultâneo aos tabaibos, surgiam as " bêberas" de diferentes qualidades.
Com o outono vinham as castanhas e as nozes, transportadas às costas em grandes sacos e, no final da estação, antes de se venderem novamente os primeiros peros e maçãs, os clientes podiam deliciar-se com as anonas, abacates e mangas.
Os homens da fruta transportavam-na ao ombro, nos chamados "cestos vindimos", cestos de paredes altas e boca larga os quais, embora fundos, não traziam apenas a fruta no seu interior. O seu fundo era preenchido com feiteira ou palha de bananeira, bem apertada de modo a formar uma "cama", sobre a qual era, então, colocada a fruta, a partir do terço superior da parede do cesto, formando uma espécie de abóboda que sobressaía da borda do cesto.
Esta ainda é a forma como, geralmente, os vendedores apresentam a fruta, para venda nos Mercados Municipais. No Natal, a "Festa" madeirense, por excelência, estas filas de cestos, repletos de fruta e outros produtos da terra, fazem a alegria dos madeirenses e daqueles que visitam a nossa ilha.
Estes vendedores ambulantes, calcorreavam os íngremes caminhos, logo pela madrugada, com estes cestos ou sacas, transportados a peso de ombros, apoiados pelo "bordão de conto", cuja ponta de aço, batia na calçada e ecoava pelas ruas, anunciando a sua proximidade.
A fruta era vendida "à dúzia" ou "ao cento". Nalguns casos, a medição era, como diz o povo, "a olho", como no caso das castanhas e nozes, em que o vendedor metia a mão no cesto e contava "mãos", que corresponderiam a um cento, consoante o tipo de fruta em questão.
Outras frutas, como os tabaibos ou as bêberas, por exemplo, eram contadas à unidade e o preço atribuído por dúzia. No caso das cerejas, seguravam uma "mão cheia", sacudindo, as que ficavam penduradas e correspondia a meio quilo. Tempos idos, em que o peso era “relativo”, mas a qualidade garantida. Fruta irregular, nas acabada de colher ou amadurecida, naturalmente, em palha de centeio ou de bananeira, com um odor e um sabor inconfundíveis, que já permanecem apenas na memória de alguns.
Fotografia: “Venda ambulante, Largo da Praça”, MFM-AV, em depósito no ABM, VVP/129.