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Os franciscanos tiveram um papel importante nos campos religioso e profano, na Madeira, com a sua presença ativa desde o povoamento do arquipélago, pelos portugueses, até à atualidade. Em finais do século XVIII e inícios do século XIX, ou seja, no período final de atividade das ordens religiosas, antes da extinção decretada em 1834, são conhecidas diversas tradições das comunidades franciscanas e que se repercutiam na sociedade da época e da atualidade. Em inícios do século XIX, os franciscanos estavam sediados em cinco espaços conventuais dispersos por Santa Cruz, Funchal, Câmara de Lobos, Ribeira Brava e Calheta.
A ação principal dos franciscanos centrava-se no campo religioso desenvolvendo as suas atividades nos espaços de culto dos conventos e nas paróquias com a participação nos atos religiosos do Natal, com missas, sermões, música, cantoria, nas cerimónias do Advento, dos “Ós do Natal”, mais conhecidas por Missas do Parto, das matinas, da Noite de Natal, da missa do Dia de Natal e da 1.ª oitava. As igrejas dos conventos eram engalanadas com luz (alusão a Jesus), tanto no interior, com velas, como no exterior, com luminárias nas torres. Na ideologia do modo de viver dos franciscanos, estes pediam esmolas à comunidade para ajudar a custear estas despesas com os peditórios da “cera” e do “pão”. Nesta época do ano, como também noutras épocas festivas de relevo, os guardiões dos conventos distribuíam pela comunidade conventual e pelos benfeitores e colaboradores uma propina em géneros onde se incluíam vestimentas, alimentos e tabaco. Aos nossos dias chegou, também, a tradição da elaboração dos presépios, tão acarinhada por S. Francisco de Assis.
A celebração do Natal extravasou o campo religioso e reflete-se na gastronomia, com os franciscanos a usufruírem de uma alimentação diferente da do quotidiano e das outras festas, sendo este período, por vezes, apenas designado por “festa”, ou seja, a festa maior, como ainda hoje é conhecido pelos madeirenses.
Na “festa” era dada a preferência pelo consumo de carnes de galinha, sendo adquiridas uma unidade para cada religioso no período festivo, e de porco, muitas das vezes morto pelo Natal e conservado em sal ou em “vinho de alhos”/”vinha dalhos”. Também é habitual a aquisição de enchidos, azeitonas, queijo e de hortaliças como as semilhas e nabos.
Na doçaria, pelo menos para os conventos de S. Bernardino (Câmara de Lobos) e de S. Francisco (Funchal), a maioria provinha dos conventos femininos do Funchal, de Santa Clara e da Encarnação, sendo pagos o trabalho da confeção, a lenha e os ingredientes. Na doçaria destacam-se os “bolos da festa”, bolos de mel, arroz doce, aletria, doce, pudim, fartes, bolachas, biscoitos (argolinhas, broas, …). Nesta altura a despesa em ingredientes específicos aumentava com a aquisição de especiarias (canela, cravo, açafrão, noz-moscada, erva doce, pimenta, cravo maranhão, cominhos, açafrão, açafroa), mel, amêndoa, açúcar e ovos.

Texto: Paulo Ladeira. DRC/DSPC/DEP
Imagem:
A Franciscan Friar collecting Donations for his Convent
Água-tinta colorida a aguarela
Autores desconhecidos
Edição R. Ackermann
Londres,1821
(Estampa publicada no livro «A HISTORY OF MADEIRA With A Series of Twenty-Seven coloured Engravings, Illustrative of the Costumes, Manners, and Occupations of the Inhabitants of the Island»)
Roberto Pereira (fotografia)
CMFF 12;4
Casa-Museu Frederico de Freitas
 
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