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No âmbito do projeto desenvolvido no Museu Etnográfico da Madeira (MEM) e do qual resultou uma exposição temporária e a edição, em 2024, do livro” Arribar - Artes de cura e proteção”, o museu decidiu partilhar, nas páginas das Redes Sociais, uma nova rubrica, sobre a temática da medicina popular. 
Este mês o MEM divulga a “seringa de clister”. Este artefacto terapêutico é composto por um tubo em estanho, um êmbolo ou um pistão de madeira, que se move no tubo, comprimindo o líquido, que é expelido por uma ponta.
O uso de purgativos e clisteres remonta ao antigo Egito, pois acreditava-se que as fezes continham substâncias tóxicas que, ao serem absorvidas pelo corpo, causavam doenças. 
De acordo com o sistema humoral hipocrático-galénico, vigente no pensamento médico até ao séc. XVIII, entendia-se que a saúde dependia da exata proporção e perfeita conjugação de quatro humores. O processo saúde-doença consistia numa relação entre água, terra, fogo e ar, sendo a doença o resultado do desequilíbrio entre estes elementos. Estes poderiam alterar-se, por ação de causas externas ou internas. A recuperação e cura dar-se-iam pela eliminação do humor excedente ou alterado, por exemplo através da eliminação das fezes, de modo a ser mantido em equilíbrio, para que o corpo se mantivesse saudável.
Para quem sofria de doenças intestinais e para estimular o funcionamento do sistema gastrointestinal era comum, a introdução de água simples ou de um laxativo, feito com ervas, que possuíam propriedades medicinais. Era injetado através de uma “seringa de clister”, ou “enema”, com o intuito de facilitar a evacuação das matérias fecais, retidas nos intestinos. A aplicação de clisteres, na maioria das vezes, era feita por um boticário, que preparava a medicação com as plantas medicinais.
No desconhecimento de outras terapêuticas, o recurso dos clisteres foi frequente a partir do século XV. Nos séculos XVII e XVIII, o seu uso disseminou-se por todas a Europa. Muitas pessoas chegavam a administrar mais de um clister por dia, perfumando a água ou o laxativo com rosas, laranjas, mandarinas ou clementinas, ou ainda com flores angélicas. Era também prescrito para febres, queixas de indigestão, dores de cabeça ou para eliminar vermes intestinais. 
Posteriormente, o clister de seringa foi substituído pelo irrigador, de metal esmaltado ou porcelana e, finalmente, pelo clister de borracha.
Texto: César Ferreira
Fotografia: Florêncio Pereira 
MEM

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