"O Espaço e a Festa: Gambiarras Multicolores". Património cultural imaterial.
Porque brevemente se festeja o São Pedro, o Museu Etnográfico da Madeira, partilha este tema, comum a todos os arraiais madeirenses, e que aqui é relevante, porque podemos ainda encontrar, na vila da Ribeira Brava, onde está sediado o Museu Etnográfico da Madeira, alguns dos antigos artefactos de iluminação, preservados por uma antiga empresa, responsável pela decoração da festa, montados ao longo das ruas, decoradas, minuciosamente, com plantas, bandeiras e "gambiarras" ou criativas "engenhocas", de lâmpadas multicolores.
Em todas as festas e romarias, a iluminação era uma componente da ornamentação do espaço e era montada com o auxílio de "gambiarras", ou seja, um sistema de iluminação formado por várias lâmpadas enfileiradas, sustentadas por um único suporte horizontal, o fio, usada principalmente para iluminação provisória.
O frontispício da igreja era iluminado com estes cordões de luzes, que se desdobravam em "gambiarra", no adro e nas ruas mais próximas, bem como ao longo dos caminhos que circundavam o local da festa e que apresentavam diferentes morfologias, variando consoante a posição em que eram colocados, obtendo, assim, popularmente, diferentes designações, nomeadamente: "caseado", "em linha" ou "corrido", "em X" ou cruzado, "bico de serra" ou "ziguezague no teto".
Além dos cordões de iluminação, com lâmpadas de diversas cores, dispostos de modo a formar diferentes desenhos, eram colocados também, em determinados espaços, outros artefactos de iluminação, formando símbolos religiosos, como a "cruz" ou a "custódia", ou meramente decorativos, como as "estrelas", os "cestos" ou a "choradeira". São estes dois últimos que aqui apresentamos.
Se para as "gambiarras" utilizavam lâmpadas incandescentes, os dispositivos mais antigos usados durante as primeiras décadas de uso comercial da energia elétrica e que se mantiveram até os nossos dias, já nos artefactos, como os "cestos", utilizavam lâmpadas com ligação em série.
Antigamente as lâmpadas eram pintadas pelos próprios, que recorriam a verniz, de diferentes cores, para esse efeito. Colocavam-nas na gambiarra, penduravam-na numa parede e ligavam à eletricidade. Depois, colocavam o verniz num copo e, uma a uma, iam mergulhando as lâmpadas, deixando-as a escorrer e a secar, cerca de 30 minutos, de forma a que o verniz aderisse ao vidro, por ação do calor.
Segundo consta, em tempos mais recuados a eletricidade para estas iluminações era produzida por geradores volantes ou utilizavam-se fogos naturais de azeite em tigelas coloridas, escamas de cebola, valvas e, mais raramente, por meio de velas de estearina dentro de balões de papel.
"Cestinho” e "choradeira", artefactos de iluminação, Ribeira Brava, Anos 60/70, Col. particular de Electrosom.
Texto: Lídia Góes Ferreira
Recolha e Fotografia: Florêncio Pereira
In: "Festas e Romarias da Madeira", Cadernos de Campo, N°3, Secretaria Regional de Turismo e Cultura, Direção Regional da Cultura, Museu Etnográfico da Madeira, Funchal, 2019.