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Em 1854, um fotógrafo francês chamado André Disdéri (1819-1889) patenteou um novo tipo de apresentação da imagem fotográfica, baseado no processo do colódio húmido, chamado “Carte de Visite” (Cartão de visita), que veio revolucionar a indústria da imagem da época e assim popularizar o retrato fotográfico. Consistia numa fotografia impressa num papel albuminado com pouca espessura, com a dimensão de 54 mm por 89 mm, sendo aplicada num cartão mais espesso, com 64 mm por 100 mm, onde o fotógrafo estampava a sua marca (ver um exemplo na nossa publicação de 24 de fevereiro: t.ly/VY3P). A inovação não se quedava apenas no seu formato e sua apresentação, sendo que o método da produção dessa imagem era também engenhoso. Disdéri criou uma câmara onde acoplou quatro objetivas semelhantes, o que lhe permitia captar igual número de imagens num só negativo de vidro. Poderia registar vários retratos em simultâneo, ao abrir duma só vez todas as objetivas, ou uma sequência de imagens em poses distintas, se descobrisse uma objetiva de cada vez. Quando reveladas, as imagens podiam ser separadas e coladas nos cartões acima mencionados. Seguiu-se a adição de mais objetivas (6, 8 e 12), que não só proporcionavam um melhor aproveitamento do negativo em vidro, como também reduzia o tempo necessário para se obter várias cópias de uma mesma imagem (exemplar na nossa publicação de 15 de janeiro: t.ly/lPr6). Na altura, o processo de revelação do negativo era complexo e moroso, sendo que a sua positivação implicava também algum dispêndio de tempo, pois recorria à exposição solar.
A Carte de visite respondia assim à necessidade de retratos que pudessem ser captados e reproduzidos de forma rápida e acessível. Como o nome indica, a sua dimensão deriva dos cartões de visita (ou de negócios) usados pela burguesia e fidalguia, nas suas interações sociais ou comerciais, aos quais Disdéri pensou valorizar com a adição da imagem da pessoa que se apresenta. Apesar da redução do tamanho habitual da fotografia, e consequente baixa dos custos de comercialização, serem mais atraentes para os clientes da classe média baixa, a encomenda em 1859, de vários exemplares para fins de propaganda, por parte do imperador Napoleão III (1808-1873), popularizou o novo formato. No ano seguinte, na Inglaterra, o fotógrafo americano John Mayhall (1813-1901) fez uma série de retratos da rainha Vitória (1819-1901), do príncipe Alberto e respetiva prole, que reproduziu no formato de carte de visite e que se tornaram muito populares na corte britânica, sendo vendidas centenas de milhares de cópias. O tamanho padronizado da carte de visite, e a sua fácil reprodução, proporcionou o modismo da sua coleção, sendo arquivados em álbuns criados para esse efeito, e muitas pessoas juntavam ao seu álbum, não só os seus retratos e os dos seus familiares, como também os de outras personalidades ilustres da sua época. Eram também suscetíveis de envio postal, já que as suas dimensões eram adequadas ao envelope de carta comum, o que ajudou a popularizar este formato, que foi o mais vendido durante toda a década de sessenta de oitocentos. Este tipo de representação conferia ao retratado um certo estatuto social, e obedecia a uma estética muito peculiar, desde aos seus enquadramentos (corpo inteiro, meio-corpo ou busto), às poses firmes apoiadas em mobiliário diverso e aos cenários elaborados, que remetiam para a imagem das ilustres figuras que posavam diante das câmaras dos mais afamados fotógrafos da época. Alguns estúdios fotográficos disponibilizavam até aos seus clientes, roupas ajustáveis que lhes permitiam assumir uma pose mais digna e maior estatuto.
No início da década de 1870, este formato foi suplantado pelo “carte cabinet” (cartão álbum), cuja apresentação era em tudo semelhante, mas num cartão maior, que media 110 mm por 170 mm. Esta nova configuração manteve-se popular até ao início do século XX, altura em que o gosto mudou, e em que a inovação tecnológica, implementada pela Kodak, enfoca o interesse pela fotografia do instantâneo.
Na imagem que ilustra este texto, observam-se várias cartes de visite produzidas por diversas casas fotográficas (entre as quais Photographia Vicente e João Camacho) que retratam Alberto Camacho Brandão (1884 — 1945), militar e fotógrafo amador Açoriano, e seus familiares. A fotografia desse conjunto foi captada pelo próprio Brandão.
[MG]

Créditos: Museu de Fotografia da Madeira - Atelier Vicente's.

cartedevisitvicentes
ALBERTO CAMACHO BRANDÃO | Conjunto de 12 cartes de visite de Alberto Camacho Brandão e de seus familiares
17,8 x 13 cm | Negativo simples, vidro | Gelatina e sais de prata
MFM-AV, Inv. ALB/16

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