No âmbito do projeto desenvolvido no Museu Etnográfico da Madeira (MEM) e do qual resultou uma exposição temporária e a edição, em 2024, do livro “Arribar - Artes de cura e proteção”, o museu partilha, mensalmente, nas suas páginas das Redes Sociais, uma rubrica, sobre a medicina popular.
Este mês o MEM partilha a oração de “curar do ar”.
Devido ao isolamento das populações e a falta de cuidados médicos, era comum o povo recorrer às curandeiras para a cura de males, tanto físicos como espirituais. Nestes tratamentos, utilizavam plantas, que possuíam propriedades medicinais, massagens, ventosas, mas também rezas, esconjuros e benzeduras, nos quais se invocava a intervenção divina.
Existem vários tipos de ar, como o quente e o frio, o da serra e o do mar, do sol e da lua ou o ar de portas e janelas, que causam uma congestão, definida como uma acumulação de sangue tecidual. Pode ser uma congestão pulmonar, como a constipação, a pneumonia, tosse e febres ou cerebral, em que há acumulação anormal de sangue no cérebro, ficando com um braço ou uma perna paralisada. Pode ainda tratar-se de tonturas, dores no corpo, na cabeça e nos ossos, devido ao "ar encanado". Segundo o povo existem, ainda, os ares originados por um espírito mau, que se tenha introduzido num corpo e que lhe transmita uma emanação impura ou maléfica, um "ar mau", que, ao passar por determinada pessoa ou animal, interfere no seu quotidiano, causando-lhe diversas doenças.
Em dia de sol, para curar do ar, arranja se uma toalha de linho e faz se cinco dobras. Deita se água fria num copo, coloca se a toalha na boca do copo e põe se na cabeça, fazendo pressão com a mão sobre o copo e com a outra aberta proferindo a seguinte oração e fazendo, simultaneamente o sinal da cruz:
“Caminhou Iria da sua morada
Curar o seu filho que sofria
Sofria de ar quente e de ar frio
Volta atrás Iria
Curar o teu filho.
Esta oração é dita nove vezes e depois reza se o Pai Nosso”.
Informante: Maria José Perestrelo Marques, Ribeira Seca, Machico, 2022
Fotografia: Florêncio Pereira (MEM)