Antigamente, para combater uma doença ou mal-estar, o povo socorria‑se de rezas, "benzeduras" e "esconjuros", em que era invocada a intervenção divina, tornando, assim, a força da fé, um meio de cura. Acreditava‑se na eficácia das palavras, que tanto serviam para lançar uma praga, desejar uma doença ou outro mal, como para curar e afastar malefícios e, por isso, a doença e a saúde, surgiam associadas ao sobrenatural.
Estas curas, usadas em pessoas e animais domésticos eram, sempre, efetuadas e repetidas, em números ímpares.
A oração é proferida nove vezes, tendo, na mão, galhos de alecrim, umas palhinhas de alho, galhos de oliveira, tudo amarrado num "maranhinho”.
Oração:
“Ar Luís (mau) vem da serra, vai pao mar, onde tu não oiças galo nem galinha cantar, nem vaca berrare, nem porco roncare, qu´esta rês é menha, tu não hás‑de levares”.
Depois, o molho de ervas é deitado no mar. Além da oração, podia colocar-se, no chiqueiro, uma garrafa de vidro vazia, espetada num pau (invertida), ou cheia de água benta, na manhã de São João. A intenção de colocar a garrafa, era para quando o ar passasse, batesse na garrafa, quebrando‑a e livrando o porco do “mau ar”.
Para proteção do “mau olhado” amarra-se, ainda, ramos de alecrim aos paus do chiqueiro ou um corno, espetado ou amarrado a um pau.
(Informante: Elisa de Abreu, sítio da Referta, Porto da Cruz, recolhido por António Aragão e Artur Andrade, 23/4/1972, SREC, Gabinete de Defesa e Dinamização do Património da Região, transcrito para papel, coleção MEM.)
Texto: César Ferreira
Fotografia: Florêncio Pereira
Grafismo: Fernando Libano