Devido ao isolamento das populações e a falta de cuidados médicos, era comum o povo recorrer às curandeiras para a cura de males, tanto físicos como espirituais. Nestes tratamentos, utilizavam plantas, que possuíam propriedades medicinais, massagens, ventosas, mas também rezas, esconjuros e benzeduras, nos quais se invocava a intervenção divina.
O “cobro” ou “zona” é um herpes zóster, cujos sintomas consistem em erupções cutâneas (bolhas), rodeadas por uma pequena zona vermelha, que o povo atribui à ação de um bicho, que tenha passado sobre a roupa do enfermo.
Iniciando o tratamento, a curandeira benze-se e coloca um pau de figueira na mão esquerda e uma faca na mão direita e vai cortando o pau, sobre as bexigas, rezando a seguinte oração, fazendo o sinal de em cruz, nove vezes seguidas, durante nove dias:
Eu te curo de cobro, cobra
Fogo macho ou fêmea que (nome da pessoa) tenha aqui
Corto a cabeça, rabo, unhas e dentes
Tudo o que venha aqui a crescer
Que se seque, emigre e saia
Deste corpo para fora
Após estas nove orações proferem outra, diariamente, segurando o pau e a faca, o qual é repetido durante nove dias:
Em louvor de Deus e da Virgem Maria
Te cure e Deus te sare.
O pau da figueira que vai secando aos poucos, é queimado e a cinza é deitada num papel. A curandeira dirige-se, depois, ao mar e, de costas voltadas, quando a maré está a descer, joga o papel na água proferindo a seguinte frase:
Mar leva a maldade e traz o bem
Informante: Martinha Andrade, Ribeira Brava, 2023
Museu Etnográfico da Madeira
Texto: César Ferreira
Fotografia e tratamento de imagem: Florêncio Pereira
Grafismo: Fernando Libano