Solar de São cristovão, Machico, Ilha da Madeira.
Esta casa! Foi aqui que vivi alguns dos mais belos anos da minha vida; Em cada canto chora nela uma saudade; Aqui gemem as minhas perdidas ilusões.
Diário de Maria Alda da Camara Escórcio Gouvêa,1906 (avó de Carlos Cristóvão)
A construção da Quinta de S. Christovam começa no ano de 1690 e termina em 1692, data gravada na cantaria da porta da capela e afirma-se como tradicional solar madeirense abastado, na tradição arquitetónica insular. Foi mandado construir pelo morgado Cristóvão Moniz de Menezes.
Exemplar único de arquitectura senhorial, cuja designação (...)abrange o conjunto de edifícios que, para além da função de residência do proprietário e da sua família, albergava igualmente o pessoal e as instalações relacionadas com as funções diretivas, administrativas e sociais do mesmo. Com a progressiva organização da sociedade madeirense, nos anos seguintes ao povoamento, para além das figuras dos capitães do donatário, relacionadas com a doação de terras e a instituição da figura do proprietário(...), que se estabelecia pelo uso de determinados atributos, como as armas dos cavaleiros e escudeiros ou as varas dos oficiais de justiça, entre outros, tinha quase que obrigatoriamente de se estender à sua residência, não só pela colocação da mesma em local de destaque, como pelo impacto visual que deveria ter, para ser de imediato reconhecida.1
Do lado norte, lembra uma fortaleza, por causa da sua altura e pela ausência quase total de janelas. Evitaram, certamente, rasgá-las por causa do vento. As fachadas laterais são banais, embora entre si sejam diferentes: uma é bastante alta, pois é composta de rés-do-chão, primeiro e segundo andar, e a outra quase que nem se lhe dá direito a ter primeiro andar. A explicação é simples. O prédio foi construído em um declive de terreno. Este pormenor vem beneficiar a fachada sul, porque a livra da monotonia. Esta é composta de três janelas no primeiro andar, sendo uma a do coro da capela, que se encontra encravada a meio da casa, e de uma porta, à qual lhe dá acesso uma escadaria de pedra. Esta porta dá-nos logo entrada para o salão nobre da casa, junto à sala de jantar, e também com uma porta para o coro da capela.
Sob a escada de pedra, ou seja, no rés-do-chão, existe um arco armado em cantaria, muito característico nos solares antigos que servia para recolher, presos a uma argola, os cavalos de alguns visitantes temporários. Ao alto da escada, está um alpendre à antiga portuguesa (...)2
Na parede, um azulejo armoriado evoca os brasoes dos proprietários (Moniz, Menezes, Câmara , Drummond) herdeiros em sucessão de propriedade, até Carlos Cristóvão da camara leme Escórcio de Bettencourt .
Foi hospede nesta casa, a Madre Mary Jane Wilson (1840-1916),por acordo havido com D. Júlia de Bettencourt, para instalação de um centro educacional. De 8 de Setembro de 1904 até cerca de 1925, a Irmã Wilson aqui presidiu à fundação de uma Escola de S. Francisco de Sales.
O solar sofreu algumas transformações, fruto do devir dos tempos.1 Construíram-se instalações sanitárias, atelier, biblioteca, quartos onde outrora havia lojas, adega, dormitório dos serviçais.
Na cozinha permanece um forno original a lenha, sobre lajeado de pedra.
Pode caracterizar-se um núcleo significativo constituído por mobiliário de origem portuguesa e madeirense do século XVII ao XIX, em vinhático, mogno, nogueira e carvalho, como referência à marcenaria regional. Outro conjunto, é marcado pelo mobiliário português de inícios do século XIX do qual se deve destacar um canapé de pau santo ou um piano de gabinete em madeira de nogueira.
Em especial, destaque um quadro a óleo do séc. XVII, O Milagre da Nazaré, coetâneo do inicio da ocupação do solar.
Da coleção, especial referência para um sideboard português do seculo XVIII, em mogno, de uma oficina nacional ao tempo de D. Maria I.
À apresentação inicial das coleções, foram adicionadas peças provindas de antiquários, por desgaste dos originais no seu uso diário, alargando o número de objetos de uso doméstico e ornamental dos vários seculos com predominância para o seculo XIX, para melhor se caracterizar o quotidiano de uma quinta centenária, harmonizando e contextualizando a vivencia deste solar ao reforçar a dimensão de residência ao gosto madeirense desde o século XVII ao seculo XIX. Destaque-se numa caixa de prever em mogno e um bidet em madeira de vinhático, retomado a veracidade dos usos e costumes do seculos XVIII e XIX, nas casas mais abastadas.
Referências Bibliográficas:
1Rui carita in http://aprenderamadeira.net/arquitetura-senhorial/
2Cristóvão, Carlos in SOLAR DE SÃO CRISTÓVÃO
Roteiro Cultural do Concelho de Machico - Ilha da Madeira, Edição da Câmara Municipal de Machico.
Cristóvão, Carlos (1989), Elucidário de Machico, Câmara Municipal de Machico, 3ª edição.
Tutela:
Direção Regional da Cultura
Coordenador:
Hélio Vasconcelos
Morada:
Caminho de São Cristóvão, n.º 26 - Caramanchão
9200-420
Machico
Telefone:
(351) 291 969 200
Facebook:
https://www.facebook.com/solarsaocristovao/
Horário:
Terça a sábado das 09h30m às 12h30m e das 13h30m às 16h00.
Encerrado domingo, segunda e feriados.
Entre 27 e 29 de agosto. o Solar de São Cristóvão estará encerrado ao público, para a execução de trabalhos de manutenção.
Ingresso:
Gratuito
Visitas guiadas:
Com marcação prévia
Categoria:
Unidade Paisagística Construída
Tipologia:
Arquitetura Civil/Erudita
Época de Construção Inicial:
Finais do Séc. XVII
Proteção:
Imóvel de Interesse Municipal