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Os Tremoços. 
Os tremoços são sementes das plantas “fabáceas”, conhecidas como tremoceiros (especialmente “tremoceiro-comum” – “Lupinus albus” L.), pertencentes ao género “Lupinus.
Estas plantas são usadas na agricultura, no tratamento dos solos (permitindo fixar o azoto) e, ainda, na alimentação dos animais. Os tremoços, sementes amarelas, não têm aproveitamento agrícola, mas são muito utilizadas na gastronomia tradicional do nosso arquipélago, especialmente como “dentinho” (aperitivo ou acepipe), sendo também usual, quer em todo o país, quer no Brasil, acompanhar a cerveja, motivo pelo qual o apelidam, popularmente, de “camarão do povo”.
Contudo, antigamente, o tremoço, tal como o inhame, era um dos principais alimentos da dieta madeirense, na época pascal, altura em que se substituía a carne, por outros alimentos nutritivos, que a natureza colocava à disposição. Eram preparados no "Domingo de Ramos", para serem consumidos na "Semana Santa".
Estas leguminosas são compostas por vários nutrientes, indispensáveis ao bom funcionamento do organismo, como sais minerais, vitaminas e proteínas, o que as tornam um alimento rico. No entanto, os grãos não podem ser consumidos frescos ou mesmo secos, pois contêm um aminoácido e uma série de substâncias alcaloides, com efeitos tóxicos para o organismo. Por este motivo, devem ser cozidos e cobertos com água, mudada com frequência, até perderem o seu amargo original, eliminando-se, desta forma, os alcaloides.
Deste modo, os tremoços tinham de ser “preparados”, ou seja, eram adquiridos secos, nas mercearias ou “vendas”, como são conhecidas no nosso arquipélago e eram, depois, cozidos e colocados a curtir durante vários dias. Era comum colocarem-nos em água corrente, nas ribeiras, dentro de sacas de serapilheira, amarradas a pedras, ou havia quem os colocasse mesmo nos poços de rega.
Hoje, podem se adquirir os tremoços previamente curtidos e cozidos e proceder apenas ao seu tempero.
São presença comum nos "arraiais", como “dentinho”, nas barracas de comes e bebes, podendo também serem adquiridos, nas ruas, acondicionados em pequenos sacos.
Segundo o povo, nunca sentimos o estômago cheio, ao consumir tremoços, afirmando-se que “quantos mais se comem, mais se querem comer”, facto que justificam com uma lenda, segundo a qual, o tremoço teria sido “amaldiçoado” por Nossa Senhora.
Para fugir à perseguição dos soldados do rei Herodes, que queriam matar o Menino Jesus, a Sagrada Família decidiu ir para o Egipto. Ao passarem junto a um tremoçal, os tremoços secos, ao serem pisados pelos cascos do burro, provocavam barulho, o que terá alertado os soldados romanos para a sua localização. Dirigindo-se aos tremoços, a Virgem teria dito:
— Ó ervinhas, peço-vos que não façais barulho, senão sereis amaldiçoadas.
Como os tremoços continuaram a provocar ruído, a Virgem teria os amaldiçoado, para toda a eternidade, para que não saciassem a fome a ninguém.

tremocos

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