De entre os rituais sagrados temos a celebração das novenas (nove missas, que se realizam diariamente, antes do dia da entidade que está a ser festejada), as confissões, a missa e a procissão. Dentro da igreja, o povo beija, usualmente, o santo “festeiro”, numa espécie de bênção propiciatória, simbolizando a aceitação do seu poder milagroso e os fiéis cumprem e fazem promessas, protegendo a sua vida quotidiana.
A festa também contempla a parte profana, ou seja o “arraial”, como é popularmente conhecido. É o espaço onde se dança, canta, come, realizam-se trocas comerciais, namora-se, etc.
Nesses dias, a igreja e arredores estão decorados com plantas, nomeadamente o louro, a murta, o buxo e a giesta, luzes, flores e bandeiras.
Uma ou mais bandas de música tocam pelas ruas, fazendo intervalos coincidentes com os grupos musicais e folclóricos. Também existem grupos de tocadores improvisados, que alternam entre si um mote, ou que cantam ao desafio (despiques), ao som do reco-reco, das castanholas, da harmónica, do brinquinho, do acordeão e dos instrumentos de corda: rajão, braguinha e viola de arame.
Hoje, partilhamos uma das grandes FESTAS MARIANAS do nosso arquipélago.
Foi no Concílio de Éfeso, em 431, que se deu início ao culto mariano, sendo Nossa Senhora proclamada Virgem Santa e Mãe de Deus. A sua veneração é feita sob os mais variados títulos, sendo diferenciada através dos seus atributos. O manto de cor azul e a auréola na cabeça são atributos comuns.
A festa de Nossa Senhora do Monte celebra-se, hoje, 15 de agosto, no concelho do Funchal. De entre todas as romarias esta é, talvez, uma das mais concorridas, por ser a da padroeira do Funchal e dos madeirenses.
Este culto tem origem numa lenda, que refere a aparição de uma Menina - Nossa Senhora - a uma pastorinha, no Terreiro da Luta.
Desde então, foi instituída toda uma devoção, alimentada por diversos milagres, sendo muitas vezes invocada em casos de “aflições públicas”, como grandes doenças, nomeadamente a peste, tempestades, secas, aluviões, naufrágios, sendo disso testemunho muitos documentos escritos.
Nessas alturas, a Câmara Municipal do Funchal organizava uma procissão e trazia a imagem para a Sé do Funchal, permanecendo ali até a graça ser alcançada. Depois era conduzida novamente em procissão, até à sua igreja, no Monte.
De 5 a 13 de agosto, a anteceder a festa, têm lugar, as novenas preparatórias, a expensas dos mordomos, que recolheram ofertas por vários sítios. A primeira é denominada de “Chave-de-Ouro”. Depois seguem-se as novenas da “Boa Esperança”, do “Bom-Coração”, da “Boa-União”, da “Paz”, dos “Emigrantes”, dos “Carreiros”, da “Boa vontade” e, por último, a da “Boa-fé”.
A pequena imagem de Nossa Senhora do Monte, datada do séc. XV, que se encontra numa espécie de trono, é retirada nestes dias, para que, ritualmente, os fiéis possam beijá-la.
O frontispício da igreja está vistosamente iluminado e as típicas barracas de comes e bebes estão instaladas no Largo da Fonte e no Largo das Babosas. Uma ou mais bandas são convidadas para animar o arraial, frequentado por centenas de pessoas, madeirenses, emigrantes ou turistas. São muitos os que ainda fazem fila para beber da água da nascente que corre no Largo da Fonte, a “Fonte da Senhora”, porque se acredita ser esta água medicinal.
No dia 15 celebra-se a missa e depois a procissão, que percorre os caminhos circundantes à igreja. O andor de Nossa Senhora está enfeitado com flores e a imagem ornamentada com uma coroa e joias em ouro.
Nesta festa destacam-se as inúmeras PROMESSAS pagas em cera, dinheiro e penitências públicas, que todos os anos são cumpridas no seu santuário. As velas e os círios (varas de cera, da mesma altura do peregrino), símbolos de fé, e objetos das promessas dos romeiros, são colocados para arder, no Largo da Fonte ou transportadas na mão, durante a procissão. Também existem figurações de cera de vários formatos, representando partes do corpo, atingido por doenças e se cumprem promessas subindo de joelhos a escadaria que dá acesso à igreja do Monte, ou ainda participando na procissão descalços, com círios acessos, indo os depor, no altar aos pés da Virgem.
Depois da procissão os romeiros divertem-se no arraial, comendo e bebendo.
"Festas e Romarias da Madeira", N°3 da Coleção “Cadernos de Campo” do Museu Etnográfico da Madeira, uma edição da Secretaria Regional de Turismo e Cultura.