Bom Pastor.
"Escultura entalhada em marfim e atribuída a uma oficina goesa de meados do século XVII, sendo imagem muito popular na missionação do Oriente, mas igualmente importada em grandes quantidades para Portugal Continental.
O tema do Bom Pastor, caído em desuso na iconografia ocidental, ganhará em Goa uma renovada dimensão, sendo perfeita simbiose entre a cultura Cristã e o Induísmo.
Compõe-se pela figura do Bom Pastor sobre o monte, com manto serrilhado e recortado, preso por cinto, apoiando sobre cabaça o braço direito e sustendo a cabeça do pastor adormecido. Com o braço esquerdo segura uma ovelha, que de forma dócil olha o pastor. De pernas cruzadas paira sobre embasamento constituído por base em andares ou socalcos.
No primeiro patamar vê-se um luxuriante jardim e a Fons Vitae (Fonte da Vida), onde pássaros bebem. A fonte é ladeada de figuras tenentes, das quais uma está truncada. No segundo patamar, duas gárgulas com repuxos vertem água para vasos onde bebem pássaros. Ao centro, um cão pastor guarda o rebanho em posição de vigia. No socalco inferior, numa gruta concheada de rebordo ondeante, Maria Madalena encontra-se deitada lendo o Livro Sagrado, símbolo da conversão, da fé e do perdão.
O tema do Bom Pastor personifica uma igreja que se aventura numa missionação imensa sobre novos territórios. Tem o forte simbolismo do pastor que se deixa adormecer sabendo que triunfará a fé no seu rebanho. Esta simbologia da certeza da fé é sintomática num momento em que o Cristianismo saía triunfante na Contrarreforma pós Concílio de Trento.
São conhecidos Bons Pastores em coleções no Arquipélago da Madeira".
Bom Pastor
Oficina Indo-Portuguesa, Goa
Meados do século XVII
Marfim e vestígios de policromia
Alt. 23,5cm x Larg. 7cm
Casa Colombo – Museu do Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses
Fotografia: Filipe Matos | Direção Regional da Cultura