Visite a nova exposição temporária do Museu Etnográfico da Madeira - MEM.
Uma parceria com o Coletivo "Enfia o Barrete" e Rafaela Rodrigues.
Fotografia: Florêncio Pereira - MEM.
A entrada para a mostra é gratuita.
A Exposição é o resultado da recolha e estudo prático à volta de dois rebanhos em regime silvipastoril (ACGSP), duas fiandeiras de lã, Isabel da Eira e Isabel Ferreira e o repertório de tricot/malhas.
Tem como objetivo dar a conhecer a lã, uma matéria-prima regional, ao longo do seu ciclo completo, desde a pastagem até à sua transformação em objeto, destacando a sua ligação à natureza e o papel fundamental do homem neste processo.
O percurso expositivo abrange o trajeto da lã, desde o mundo vegetal e animal até à sua integração na cultura.
Ao reconhecer este património e afirmar o seu valor, a exposição propõe uma interpretação contemporânea da lã e das tradições a ela associadas, recorrendo a experiências artísticas. O percurso recriado no espaço museológico procura compreender o que já existia na Região Autónoma da Madeira, o que ainda persiste e o que poderá surgir no futuro, tendo sempre em consideração a realidade atual. Trata-se de um encontro íntimo entre o visitante e a lã.
A exposição encontra-se dividida em dois espaços. No primeiro, o “Arquétipo”, convidamos o público a fazer uma viagem, que começa no barrete de orelhas, uma peça emblemática da ilha da Madeira que, na sua forma atual, remonta ao século XIX. Feito com lã de ovelha regional e utilizando a técnica de tricot, o barrete é um testemunho da História do povo, do seu quotidiano, desafios, valores, cultura e saber-fazer. Este espaço resultou da pesquisa dedicada à origem histórica, remetendo-se para a forma original do barrete.
No percurso efetuado, o barrete de orelhas leva-nos às grandes tosquias públicas, que ocorrem na Madeira, no Perímetro Florestal das Serras do Poiso, organizadas pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) e pela Associação dos Criadores do Gado das Serras do Poiso (ACGSP). A tosquia é celebrada como um verdadeiro arraial. O percurso passa pelas casas de mulheres, que ainda trabalham a lã, em diversas localidades, com especial destaque para as fiandeiras e artífices de peças de tricot, ligadas à pastorícia e localizam-se nas áreas adjacentes ao Poiso. Neste caminho, encontramos muitos objetos, artefactos e processos caraterísticos da ilha.
A introdução de gado ovino ocorreu na época da povoação da ilha, tornando natural o aproveitamento da lã. Em todas as casas, a lã teve o seu sábio aproveitamento: as almofadas e as colchas eram cheias com lã, o velo usado no berço e eram confecionadas peças de uso doméstico, como cobertores ou tapetes tecidos, ou de traje, como as saias, as calças, os barretes ou casacos.
A lã continua a ter presença nos grupos folclóricos da ilha e no seu vestuário.
Hoje, a lã das ovelhas da serra não é comercializada, mas continua a existir gado ovino, sem raça definida, conhecidas como “as nossas”, “as pequenas”, “as da terra” ou “as Marias” carregando, não só o peso do seu casaco, mas também memórias, costumes, tradições e o saber-fazer do povo.