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MUdasDez202119 de dezembro de 2021 a 15 de janeiro de 2022. 

A obra de Daniel Vasconcelos Melim, «(Lapinha) nascer e morrer todos os dias», executada a tinta-da-china, tinta acrílica e aguarela sobre papel (Alt. 100 x Larg. 150 cm), apresenta um presépio – numa ilha-rocha, desligada da corrente elétrica -, cenográfica, teatralizada, carregada de intenso humor, sem ser humorístico, retrata um conjunto de cenas do quotidiano que evocam memórias, tudo decorre dentro da ilha, real e simultaneamente imaginária, isolada e protegida por quebra-mares, fortes e pujantes, que coabitam com frágeis searas, tão características do Natal madeirense. Retratando uma orografia que identifica a ilha da Madeira, encontram-se povoando rochedos, estradas, ruas, becos, e túneis, sem problemas de equilíbrio ou enfrentando a lei da gravidade, muitos animais, como ovelhas; casinhas «palhaças», as tradicionais casas de palha ou de colmo, que a memória coletiva coloca na paisagem insular; a igreja, com a sua torre sineira, assinala o chamar do povo para as orações; velhas profissões, «o tira-dentes» e os «carregadores de pedra», de uma vida ainda tão presente, apesar de longínqua na recordação do povo; a vivência nas tascas ou mercearias, com brigas entre homens, que se exaltam e gesticulam; um anjo que se eleva levando na mão um maço de carpinteiro; e, ainda, a representação do «Semeador» (1924), escultura de Francisco Franco que, invertida, procurando um lugar estável no meio do caos insurgente ao longo da montanha, num frágil equilíbrio de forças que o suspende do cumprimento da sua missão: lançar sementes à terra. Ao lado direito, encerrando a cena, uma figura, sentada sobre uma tomada tripla, aguarda, pacientemente e cabisbaixo, o seu lugar no palco ermo (dentro de um vulcão em convulsão, quase em erupção ativa). Cristo, adulto, antes ou depois da sua crucificação, ou um ilhéu fora da sua geografia, que observa lateralmente a cena como que à espera do fim da convulsão ou do início de uma outra quadra festiva. Desce com o seu olhar «as sucessivas camadas de gestos, subindo por orações dadas e perdidas ao vento. Orações que depois em dedos nenhuns são unidas por cores, por acaso, por entranhas urgentes e por uma luz (…)», que fabrica a imprevisibilidade humana e o extraordinário daquele lugar ermo,» (…) Como um nada à procura de nada, o vento tem a gentileza de nos deixar existir» (Daniel Melim, 2016).

«(Lapinha) nascer e morrer todos os dias», extrapolando a tradição da «lapinha madeirense», concilia e confronta o mundo das devoções, da espiritualidade, do sagrado e do profano, num jogo de simbologias e metáforas, que penetra num estranho mundo (quase) metafísico, cujas leituras semióticas atravessam gerações, refletindo aos olhos de uma contemporaneidade, crua e corrosiva, o esforço da vida na ilha e a rudeza dos seus princípios, acrescentando-lhe a brisa estanque de um narrador invisível que todos os dias morre de exasperação, mas que todos os dias renasce ao prenúncio da aurora na renovada esperança da luz e no encantamento de um novo ciclo.
Excerto retirado do texto “Memória dos Natais” de autoria de Márcia de Sousa, Rita Rodrigues e Teresa Pais


DANIEL MELIM, (Lapinha) nascer e morrer todos os dias, pormenor, 2017.

Lapinha nascer e morrer todos os dias 100x150cm 20161

 

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